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O filme Nickel Boys, realizado por RaMell Ross a partir do romance de Colson Whitehead (que ganhou um dos seus dois Pulitzer com este livro), recua até à América de 1962, um momento de segregação racial e crescimento do movimento pelos direitos civis. Elwood Curtis é um jovem afro-americano abandonado pela mãe e educado pela avó, que gosta de ler, é bem comportado e óptimo aluno. Só que um dia tem o azar de apanhar boleia de um bandido. Apanhados pela polícia, Elwood é considerado cúmplice e enviado pelo tribunal para um centro de reeducação de jovens, a Nickel Academy. Ali dentro, tal como lá fora, negros e brancos vivem vidas separadas e têm tratamentos distintos. Os jovens negros comem pior, têm piores instalações, trabalham mais e são sujeitos a duros castigos corporais. A avó faz tudo o que pode para tentar tirá-lo de lá, mas não é bem sucedida. Elwood não tem uma vida fácil. Mas faz um amigo, Turner, com quem conversa e desabafa. Um dia, depois de Elwood ser severamente castigado, Turner teme que matem o seu amigo e decide que é tempo de fugirem do reformatório.

O filme é realizado com a câmara a assumir o ponto de vista, primeiro, de Elwood e, depois (opção que ficará justificada mais à frente da história), alternando entre Elwood e Turner. Este artifício começa por ser algo que diferencia o filme e o torna especial, mas às tantas confesso que me começou a enervar e a cansar. Ok, já percebemos a ideia, não dá para agora ter uma imagem como deve ser? A câmara treme, acompanhando os sobressaltos dos protagonistas, foca-se em rostos e pormenores, e depois desfoca-se, assume ângulos esquisitos, numa tentativa de mostrar aquilo que cada um dos rapazes vê. Mas a verdade é que isso só faz com que sintamos a câmara sempre presente. E em vez ver o filme e deixar-me levar pela história, fiquei ali super-consciente da câmara e dos seus erros. Não, nenhuma pessoa veria o mundo daquela forma, não, aquele enquadramento não corresponde ao que os olhos veriam.

Estou convencida que se o realizador tivesse filmado "normalmente" o filme seria muito melhor. Porque, tirando isso, é até bastante bom. A história é boa. O argumento é bom. Os actores são bons. A introdução de imagens e referências da época está bem conseguida. Há ali uma poesia. Mas talvez não fosse considerado "experimentalista" e não tivesse despertado a atenção de tantas pessoas. Talvez fosse só considerado bonzinho e não fosse tão elogiado pela crítica. Talvez nem fosse nomeado para os Óscares. Ainda assim, estou em crer que seria muito melhor.

(tinha este texto pronto nos rascunhos há uma semana, mas não tive tempo de olhar para ele e publicá-lo, assim está a minha vida. mas vou recuperar tudo a tempo e horas dos Óscares, vão ver)

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publicado às 18:19



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