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Estava à espera deles há algum tempo. São poucos mas estão aqui, bem na frente, impossível não vê-los quando me olho ao espelho todas as manhãs. Uns três ou quatro cabelos brancos que se destacam entre os mais escuros, a enquadrar-me o rosto, os primeiros de muitos, suponho. Só agora? Tens muita sorte, disseram-me. A sorte de nunca ter pintado cabelo. Houve uns momentos, quando era mais jovem, que tive vontade de ter o cabelo vermelho ou azul, mas nunca tive coragem. E para falar a verdade sempre gostei do meu cabelo preto. À medida que, à minha volta, amigas iam-se confrontado com os cabelos brancos, perguntava-me o que faria eu quando a minha altura chegasse. Iria pintar? Sempre achei que não. Irei pintar?, pergunto-me outra vez. Continuo a achar que não, mas quem sabe? A única coisa boa de envelhecer é estar cada vez mais nas tintas para o que os outros pensam e para o que é suposto uma "senhora da minha idade" fazer. Que se lixem as convenções sociais e as expectativas dos outros e os "alexandres pais" desta vida. Se me apetecer pintar o cabelo de cor-de-laranja, pinto. Se me apetecer ficar grisalha, fico.
O corpo é meu.
Se me acharem feia, não olhem. A gerência agradece.
Se vos apetecer comentar, fiquem calados, ou falem do tempo.
Sobre cabelos brancos escrevi AQUI.
Sobre esta pressão colocada sobre as mulheres e os seus corpos tenho escrito bastante, é só seguirem a tag Mulheres.
Sobre o texto execrável do Alexandre Pais, acho que há muito tempo que não sentia um nojo tão grande ao ler as palavras de alguém que não fosse o André Ventura. São três parágrafos de machismo, bodyshaming e idadismo. Uma pérola de boçalidade que julgávamos já não ser possível em 2023.
E ainda há quem me diga que as lutas feministas já passaram de moda. Quem me dera.