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(este texto contém spoilers)
A mim não me custou a extensão. São três horas e meia mas vê-se bem. Por aí já se vê que há coisas boas neste filme. A mim custou-me a falta de foco. O filme distrai-se por muitas personagens, pequenas histórias que, depois, são abandonadas e ficamos sem saber como acabam. Então, afinal, o que aconteceu ao milionário? E o filho violou a outra e? E a miúda começou a falar? Mas como? E ultrapassou os traumas e já está grávida e tudo? E afinal a mulher já anda? E que lhe aconteceu no fim? São muitas perguntas sem resposta. E claro que os filmes não têm que contar tudo, eu sei isso. Mas também é preciso saber dar esses saltos, não é assim de qualquer maneira. Para quê estar a investir naquelas personagens e em tantos pormenores para a seguir desprezá-las desta maneira? Na minha opinião, faltou ali um editor que cortasse as gorduras, como se dizia antigamente nas redacções dos jornais, e que orientasse um bocadinho a história.
Mas tirando isso é um bom filme. A sério. Se não ligarmos a esses detalhes até é bastante bom. É a história de László Tóth, arquitecto húngaro, da escola Bauhaus, e judeu, sobrevivente do Holocausto, que emigra para os Estados Unidos em busca de uma nova vida e que enfrenta inúmeras dificuldades e até alguns preconceitos, contrariando um bocado aquela visão que os filmes americanos geralmente dão da "terra dos sonhos". O Adrien Brody já sabe como é fazer de vítima da guerra e fá-lo na perfeição. Tóth acaba por ser contratado por um industrial rico, Harrison Van Buren (Guy Pearce), para construir um centro comunitário megalómano. A partir daí, começa a tensão entre as vontades do arquitecto e o orçamento de quem paga a construção. Todas as cenas em volta da arquitectura brutalista, do que Tóth imagina para o edifício que está a construir e da enormidade do projecto são muito interessantes.
No fim não se percebe muito bem qual é o objectivo daquilo tudo, se é falar de arquitectura ou de imigração, se é mostrar a superação daquele homem que tanto sofreu ou mostrar os caminhos dos judeus após a guerra, se é falar da tensão de classes ou do modo como os ricos abusavam dos que estavam à sua volta sem lhes dar qualquer importância. Como eu dizia: falta de foco. Há tanta ponta por onde pegar e tanta ponta que fica solta que dá a sensação que o realizador Brady Corbet, também argumentista a meias com Mona Fastvold, deu um passo maior do que as pernas.
Críticos respeitáveis deram-lhe cinco estrelas. Que este filme ande por aí a ganhar prémios e, possivelmente, vá ganhar Óscares, é coisa que não entendo. Mas isto acontece-me tanto que já não estranho.