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24
Abr14

O meu Jorge

Conheci o Jorge há dez anos.

O António tinha nascido há pouco tempo e o meu cabelo estava uma lástima, fraquinho, a cair-me por todo o lado. Não bastavam os quilos, as hormonas, o desvario daqueles primeiros meses, ainda havia o cabelo que tinha de andar sempre apanhado para não me atrapalhar as mudas das fraldas e essas coisas todas que as mães fazem de cabeça inclinada e para o puto, com as suas mãos pequeninas, não estar sempre a puxar-me os cabelos. Então, uma tarde, entre mamadas (sim, gozem à vontade com a Carolina Patrocínio mas este é realmente o nome da coisa, por isso sosseguem lá a vossa cabecinha porca), a Isabel levou-me a conhecer o Jorge. Vais adorá-lo, garantiu.

Curtinho, disse-lhe eu. Muito curtinho. O Jorge perguntou "tem a certeza?", depois atou-me o cabelo num rabo de cavalo e cortou com a tesoura, e, olhando para a minha cara só para garantir que eu não me tinha arrependido, desatou a escortinhar com habilidade. Saí de lá como nova. (e esta foi a última vez que cortei o cabelo assim tão curto)

Desde então, o Jorge é o meu cabeleireiro. Meu e da Isabel e de mais umas quantas amigas, que nós somos assim, gostamos de partilhar as coisas boas da vida umas com as outras. Quando falamos, não dizemos que vamos ao cabeleireiro, dizemos que vamos ao Jorge, o que é bem diferente. Mesmo eu, que não sou uma grande cliente. Vou lá duas, no máximo três, vezes por ano, quando quero cortar. Não pinto, não faço madeixas, não estico nem faço caracóis. Corto umas vezes mais e outras vezes menos. Normalmente, digo: faça como quiser. Fecho os olhos e deixo-me ir, enquanto ele me faz massagens na cabeça e cuida de mim, e eu fico só a ouvir a música e a desfrutar. E mesmo ao fim deste anos todos e de me perguntar pelos filhos e pelo trabalho e de falarmos do nosso Alentejo, o Jorge sabe manter esse equilíbrio entre os momentos em que conversamos e os momentos em que ficamos em silêncio. Há pessoas para quem será diferente, mas para mim, que venho de uma terra pequena onde os salões das cabeleireiras são autênticos ninhos de fofocas, cheios de mulheres linguarudas, poder ir ali, entregar-me nas mãos de alguém que me conhece, alguém de quem gosto e em quem confio mas com quem não tenho que comentar a vida de toda a gente, é muito, muito importante.

Tenho seguido o Jorge pelos vários salões onde andou e esta semana fui visitá-lo no seu espaço novo, um sítio pequeno, só dele, sem manias de grandeza, mas com toda a simpatia. E talento.

O MetroStudio by JL fica da rua dos Sapateiros, 168. O telefone é 213420418.

publicado às 10:40


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