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Leio por aí vários posts e comentários de pessoas que encontram alguma satisfação nisto tudo por, finalmente, terem tempo para estar com a família ou (o que é ainda mais triste) estarem agora a descobrir como é bom passarem tempo juntos. Tenho uma certa pena dessas pessoas que precisaram de uma pandemia para percerceber isso (mas, bom, mais vale tarde do que nunca).
Eu não tenho tido esse tipo de revelações porque há muito tempo que sei exactamente quais são as minhas prioridades e que dou valor às minhas pessoas (os meus filhos, a minha família, os meus amigos) - talvez por isso agora me façam tanta falta aqueles que tenho que manter à distância. Eu gosto muito de estar com os meus filhos e não imagino sequer como seria ter de passar por isto sozinha. Mas, sinceramente, gostaria mais de estar com eles de férias, a passear por aí, mesmo que não fosse muito longe, do que assim.
É que, como continuo a trabalhar (e muito) e como tenho de fazer todas as tarefas da casa, incluindo perder horas nas filas sempre que é preciso comprar um iogurte, não me sobra assim muito tempo nem muita energia (nem muita cabeça) para jogar às cartas ou para fazer trabalhos manuais ou até para ver séries na Netflix ou ler livros. Além disso, não sei se já vos disse que tenho dois adolescentes cheios de energia (e de hormonas) que há várias semanas não saem de casa, não praticam os seus desportos nem estão com os amigos. Portanto, estamos aqui os três enfiados e, sim, gostamos muito uns dos outros e damos muitos abraços e beijinhos, mas isto não é propriamente o paraíso familiar.
Fazemos o nosso melhor.
O nosso melhor, às vezes, é gritarmos e batermos com as portas e dizermos que estamos fartos.
O meu melhor, às vezes, é esperar que eles adormeçam, fechar-me no quarto escuro e chorar um bocadinho de desespero por não saber muito bem o que ando aqui a fazer e que raio de pessoas vamos ser quando isto tudo acabar, se os putos alguma vez vão recuperar destas semanas passadas a jogar playstation e a ver vídeos estúpidos no youtube, se voltaremos a abraçar as pessoas de que gostamos, se continuarei a ter um emprego, se conseguiremos dar a volta ao vírus e à crise que virá.
Depois passa.
Uma das coisas que me fez bem na semana que passou foi ouvir o disco novo do Dino D'Santiago. Fez-me ter vontade de dançar.
E dançar é bom.