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12
Abr17

Paula Rego

A primeira exposição que vi da Paula Rego foi no CCB, em 1997. Fiquei apaixonada. De então para cá, tenho acompanhado o trabalho dela. Cada vez melhor, na minha modesta opinião. A série sobre o aborto é incrível na maneira como mostra o sofrimento das mulheres. As "mulheres-cão" são perturbadoras. A série sobre a depressão, de 2007 mas só agora tornada pública, está nesta linha. Tantas outras obras. Sempre intrigantes. Sempre a questionarem-nos e a fazerem-nos questionar.

Temos agora oportunidade de entrar um bocadinho mais no mundo da artista com o documentário e a exposição intitulados Paula Rego, Histórias & Segredos, a partir das muitas conversas com e do enorme trabalho de pesquisa do seu filho Nick Willing. Eu fiz ao contrário, mas o ideal é ver primeiro o filme, ouvi-la a contar as histórias todas, a falar da relação com a mãe e com o pai, o que pensava de Portugal e da ditadura, o modo como se apaixonou perdidamente por Vic Willing, os abortos, os filhos, a vida em família, a importância do trabalho, a complicada relação com o marido que, apesar de tudo, sempre amou, o sexo, os amantes, as dificuldades financeiras, o sucesso, a depressão. E, depois de tudo isto, ir ver a exposição e olhar para cada quadro, confrontando as histórias e os segredos que ela nos contou com aquilo que foi mostrando na sua obra ao longo da vida. É que estes segredos são, como diz o filho, a chave para perceber todo o seu trabalho.

E, depois, há o resto. O que ela não diz. A forma como fala - tão clara quando se expressa em inglês, quase como uma criança quanda fala português. A relação entre uma mãe e um filho, finalmente próximos à medida que ela envelhece - tem já 82 anos e percebemos que não está muito bem de saúde. As fotografias e os filmes antigos. Paula morena, de chapéu, o cabelo apanhado, como uma estrela de cinema, dirá umas das filhas. E a liberdade, que ela sempre procurou, na sua vida e nas suas obras. Sem essa liberdade interior Paula Rego não seria Paula Rego. 

O filme está apenas num cinema em Lisboa, o Ideal, e talvez não fique muito tempo, por isso não se atrasem. A exposição fica na Casa das Histórias, em Cascais, até 17 de setembro.

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(dá série "Depressão", 2007)

publicado às 18:24



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