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Os meus colegas mais novos acham que eu sou uma pessoa estranha porque tenho sempre papel e caneta. Quando conversamos e lhes conto que quando comecei a trabalhar não tinha internet, olham-me como se eu fosse um bicho raro. Como é que sabiam o que estava a acontecer?, perguntam-me. Na maior parte das vezes, se não fosse uma coisa mesmo muito importante, não sabíamos. Só mais tarde. Horas mais tarde, dias mais tarde. Mas para nós era normal. Eles não entendem. Tenho que lembrá-los que cresci sem telemóvel. Mais ainda: a minha primeira televisão era a preto e branco e só tinha um canal. E, depois, já era a cores mas só tinha dois canais. Não tinha comando. Tínhamos que levantar-nos do sofá para mudar de canal. Ah ah ah ah ah ah. Sou uma pessoa que venho de um tempo distante, para eles é como se fosse da pré-história. É impossível explicar-lhes como era viver num mundo onde não se podia fazer pausa nem voltar atrás na box para ver o que perdemos. Onde não controlávamos o que víamos, éramos meros receptores. As notícias às 20:00, meia hora depois, a novela brasileira. Os desenhos-animados logo de manhã ou à hora do lanche. A teleculinária antes do almoço. Víamos muita coisa que até não nos interessava assim tanto, mas era o que estava a dar. Ao fim de semana havia os documentários dos animais, o basquetebol da NBA, a fórmula 1. Os programas do Júlio Isidro. O Clube Amigos Disney. Os filmes nas matinés. As séries de ficção científica. E claro que víamos todos os reclames (há quanto tempo não dizia esta palavra?). Naquele tempo, a pasta medicinal Couto andava na boca de toda a gente. Escrevíamos com Bic laranja para escrita fina e Bic Cristal para escrita normal. No natal vinha o coelhinho do chocolate Regina e as Bombokas - “só há uma, é para mim!”. No verão era um Cornetto para mim, um Cornetto para ti, no inverno bebíamos Brasa, a bebida que aquece o coração. Dizíamos bom dia com Mokambo e íamos dormir com o Vitinho. Tenho a cabeça cheia de frases dos anúncios. Posso não me lembrar do que preciso comprar no supermercado, mas, bastam pequenas coisas para, do nada, desatar a cantar, sem me enganar, os jingles da minha infância. Como “É Boca Doce é bom, é bom, é, diz o avô e diz o bebééééé” Ou “Um Bongo, um Bongo, o bom sabor da selva, em cada pacotinho uma festa de oito frutos”. Ou “Aquela máquina!”. Ou “Pa-pa a pa-pa, pa-pa a pa-pa, Cérelac”.
Por isso, quanto a vocês não sei, mas a mim se me falam em planta, só consigo pensar na margarina. Nunca - nunca! - comi pão com Planta, mas isso não fará de mim menos “lambona”.
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