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No outro dia, cheguei a casa, descalcei os sapatos e em vez de os deixar no seu lugar habitual, logo à entrada, guardei-os na despensa da cozinha. Não sei onde tinha a cabeça, provavelmente vinha com fome e a pensar no que ia comer. Foi o meu filho que reparou, muito espantado: o que estão aqui a fazer uns sapatos?
Também me acontece levantar-me do sofá e ir ao quarto e quando chego lá já não me lembro o que ia fazer. Isto é válido também para as "deslocações" virtuais. Abro um site qualquer para procurar não sei o quê, mas segundos depois já não me lembro ao que vinha. Ou se, por algum motivo, interrompo o que estou a fazer, tenho dificuldade em retomar o fio à meada. Bom, se vamos falar de esquecimentos, a lista é grande. Não dispenso a minha agenda em papel onde anoto tudo o que tenho para fazer e há muito que tenho o hábito de fazer listas para tudo e mais alguma coisa - para ir às compras, para ir de viagem, para organizar o trabalho, etc. - mas mesmo assim continuo constantemente a esquecer-me de coisas.
Às vezes, estou a escrever e, de repente, falta-me uma palavra. Uma palavra simples, banal, daquelas que nem vale um tostão. Fico ali com os dedos pendurados uns segundos, a puxar pela cabeça, e nada. Vazio absoluto. Até que decido perguntar a alguém: como é que se diz...? Ou então saem-me palavras trocadas, isto é mais a falar, quero dizer porta e digo janela, ou quero dizer cavalo e digo sofá, sei lá, digo assim umas palavras disparatadas e os putos que trabalham comigo riem-se de mim e chamam-me velha. E eu rio-me também porque a outra opção seria chorar e eu tento levar isto com alguma leveza.
Diz que é normal. Que sim, é da idade e que daqui só vamos para pior. É a perimenopausa. Uma pessoa até podia tentar disfarçar, mas os sintomas estão cá. Não tenho grandes calores nem alterações de humor (acho, mas a minha opinião é parcial). Mas ando com os sonos trocados e tenho estas falhas, pequenas até ver, mas que me deixam furibunda. Não tenho saudades do sangue, vivo bem sem esse calvário mensal, e por agora também estou a aceitar as rugas e as peles caídas e esses outros sinais do envelhecimento do corpo, mas odeio sentir que estou a perder o controlo da minha cabeça. Tenho medo que não seja só velhice, que seja alguma doença. Lembro-me muito do filme da Julianne Moore, que vi quando isto ainda estava tudo muito longe, mas que me impressionou imenso. Tento não pensar muito nisso, mas, quando penso, imagino que é como se estivéssemos a descer umas escadas, a caminho da cave, e fica cada vez mais escuro, e não há maneira de voltar para trás.
Quem somos nós sem o nosso pensamento?

Não sei se há mais gente a caminho do apolicapse no largo, mas vão lá lê-las sobre o que fôr que será sempre bom: