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O mês mais curto foi cheio de coisas boas.
A começar pelos concertos de Ana Lua Caiano e Amélia Muge e de Samuel Úria e Manel Cruz. Foram ambos muito bons. E também uma oportunidade para estar com alguns amigos queridos. Geralmente evito ter programas em dias de semana porque sei que estarei cansada e não me vai apetecer e depois vou ficar ainda mais cansada. Mas foi tudo tão bom nestas duas noites que valeu muito a pena.
Fui moderar um painel numa conferência na Gulbenkian. Deus sabe o que me custa expor-me assim, as noites que passo sem dormir, os nervos que me atacam o corpo. Ainda assim, fiquei mesmo feliz quando recebi o convite e achei o tema tão interessante, tão a minha cara, que é claro que não podia dizer que não [o que é o pior que pode acontecer?, não é?]. Olhando para trás, odeio ver-me e ouvir-me, encontro mil erros, mil coisas que podiam ter sido melhores. Mas tive muita sorte com o meu painel, eram pessoas realmente interessantes e com quem gostei muito de conversar.
Foi o aniversário da Helena, que é uma das minhas pessoas preferidas. E foi um dia mesmo bom porque estive com as minhas amigas mais antigas e com quem não tenho tido muita oportunidade de estar, por motivo nenhum especial, apenas porque andamos desencontradas. Foi como se estivéssemos de volta à faculdade, com as conversas a sobreporem-se e a cumplicidade e a honestidade e a amizade de sempre. Gosto mesmo destas miúdas que me entendem bem, mesmo quando falamos pouco. Esse dia; a tarde em que, do nada, combinei com a Isabel irmos ouvir a escritora, Elizabeth Strout à Livraria Bucholz; a caminhada de duas horas pelos caminhos de Monsanto, que me deixou de corpo cansado mas de coração cheio. Foram todos momentos especiais. Não me canso de o dizer: os amigos verdadeiros são o meu oxigénio.
O espectáculo do Tiago Rodrigues, No Yogurt for the Dead, é simplesmente incrível. O texto é muito bom, com um tema muito duro mas ao mesmo tempo com um sentido de humor apurado, a fazer-nos rir e chorar quase ao mesmo tempo. As barbas, a música, a atriz que fala neerlandês, o humor, a montanha - as soluções que ele encontrou para nos falar da morte do pai, ao mesmo tempo emocionando-nos mas criando uma distância segura, são perfeitas. E que dizer daquelas duas actrizes, a Beatriz Brás e a Manuela Azevedo. Sim, a Manuela, dos Clã. Já a tinha visto noutras peças, mas aqui ela excede-se e, além de cantar como sabemos que canta, é uma actriz de corpo inteiro.
Quem viu o espectáculo sabe como ele fala a todos os que já perderam alguém. É impossível não nos relacionarmos, não nos revermos em alguma das cenas. Ainda por cima, no natal tinha oferecido bilhetes à minha irmã e ao meu cunhado. Já estava contente por termos um programa juntos. Só depois reparei que o espectáculo era no mesmo dia do aniversário da morte da nossa mãe. Acabou por ser ainda mais especial.
Os problemas não se resolveram mas, este mês, parece que estiveram mais suportáveis. Os putos mais orientados. O trabalho menos odioso. Um bocadinho menos, vá. Ou então era eu que estava tão entretida a fazer planos para março que já não me chateei muito. Também há isso.