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Os filhos crescem e seguem caminhos que nem sempre são aqueles que imaginámos ou desejámos para eles. Seguem os seus caminhos. Sabemos que será assim. Mas aceitá-lo pode não ser assim tão fácil. O crescimento dos filhos é (pode ser) uma viagem por mares revoltos - e eu não tenho espírito de navegante, enjoo facilmente. Ia dizer que o último ano foi muito desafiante, mas, sinceramente, o anterior também já tinha sido, e o outro antes desse, e o outro e o outro, já nem me lembro ao certo quando é que isto começou mas estou em crer que há de ter sido quando o António estava no 8º ano e de repente deixou de ser o meu menino adorável e se transformou num rapaz que eu não conhecia, como assim?, o meu filho não, deve estar enganada, esse não pode ser, e afinal era. Foram (têm sido) anos de zigues e zagues, de dúvidas, de discussões, de encontrões. E pelo meio começou a adolescência do Pedro e mesmo calejada, mesmo já de sobreaviso, a tarefa não se apresenta mais fácil. Lá vem mais uma onda, protejam-se, marinheiros. Os filhos crescem e não trazem manual de instruções. Era assim quando eles eram bebés, continua a ser assim pela vida fora. Apesar de tudo, era mais fácil trocar fraldas do que lidar com a adolescência. Somos as mães que conseguimos ser dentro das nossas circunstâncias. Vamos aprendendo com os erros - nossos e deles. Sentir-nos-emos eternamente culpadas por não termos conseguido ser melhores (e isso nem a terapia nos consegue tirar totalmente). Mas vamos aprendendo. A conversar com eles. A conhecê-los. A reconquistá-los. A aceitá-los, sobretudo isto. Os filhos crescem e seguem caminhos que nem sempre são aqueles que imaginámos ou desejámos para eles. Seguem os seus caminhos. E isso é ao mesmo tempo entusiasmante e assustador. Emocionante e revoltante.
Há duas semanas, o António saiu de casa. Andávamos há meses a falar disto e no momento em que acontece não estamos preparados. São tantos sentimentos misturados que fica difícil controlar as lágrimas, não sei se choro de orgulho ou de saudades, de ansiedade ou de alegria, de preocupação ou de tristeza, de mera comoção ao vê-lo pegar nas malas, tão determinado. (e quem nos prepara para a separação dos irmãos, vais te mesmo embora?, quem nos prepara para aqueles olhos brilhantes, puto, podes ir visitar-me quando quiseres, quem nos prepara para aquele abraço a três e depois o vazio?) E mesmo que seja temporário, mesmo que esteja muito perto, que falemos todos os dias, que troquemos mil mensagens, que agora ele tenha vindo passar dois dias connosco e esteja ali no quarto, como sempre esteve, mesmo que esta ainda seja a sua casa e no fundo isto seja mais ou menos o mesmo do que antes só que não tenho que lhe fazer o jantar, de repente, parece que demos muitos passos de uma só vez.
Tem sido uma viagem e tanto. Ainda estamos longe da calmaria, mas já conseguimos manter-nos à tona (na maior parte do tempo).
esta foto parece que foi ontem, mas foi em 2009
Um livro
É engraçado quando vamos lendo livros de um autor e vamos percebendo qual é o seu universo, os temas de que gosta, o espaço onde se movimentam as suas personagens. No seu mais recente livro, Toda a Gente Tem um Plano, Bruno Vieira do Amaral continua a sua investida pelos bairros mais pobres da margem Sul para nos mostrar aqueles que tantas vezes parecem invisíveis. Continua, por exemplo, entre gente que veio de África (ou do Brasil) e gente que procura conforto em deus. Gosto muito da maneira como o autor construiu esta história, evitando a linearidade, fazendo-nos ir lá atrás no tempo, uma vez e outra vez, para conhecermos melhor este Calita e as curvas da sua vida. Também gosto muito do cuidado que põe na criação das personagens e dos contextos, quase como se nos transportasse para aqueles locais, como se aquelas pessoas fossem de carne e osso e nos pudéssemos ter cruzado com elas em algum momento. Gosto de me apegar às personagens, de compreender as suas fraquezas, de ficar a torcer por elas. De sofrer com elas quando elas sofrem.
Um filme
Já o vi há algum tempo, mas, depois, com o barulho dos Óscares e a crise política que nos caiu em cima, acabei por não ter tempo de vir aqui escrever sobre O Atentado de 5 de Setembro. O filme acompanha o atentado terrorista ocorrido nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, mas do ponto de vista dos jornalistas do canal americano CBS, que estavam na torre do satélite, a uma centenas de metros da aldeia olímpica. Admito que será um filme que talvez toque mais os jornalistas. E ainda mais os jornalistas que estejam ligados à televisão. Afinal, aquela foi não só a primeira vez que os jogos olimpicos foram transmitidos em directo, mas também a primeira vez que um atentado terrorista foi transmitido em directo pela televisão - com todas as questões que isso levanta. Mas acho que pode ser interessante para toda a gente. Posso dizer-vos que, mesmo sabendo como aquilo ia acabar, o filme conseguiu envolver-me completamente e até deixar-me nervosa.
Uma série
Adolescência é mesmo imperdível. O nome diz tudo: é uma minissérie sobre a adolescência, nos seus muitos aspectos. A pressão a que os jovens estão sujeitos, por parte dos outros jovens, agravada pelas redes sociais. A influência que alguns gurus e ideologias podem ter sobre os jovens. A relação com os pais. A escola. O desespero dos professores. A falta de perspectivas. A falta de empatia. A linguagem. Os telemóveis sempre na mão. As portas dos quartos fechadas. A impotência dos pais. A culpa. Está lá tudo, mas ao mesmo tempo é uma série muito diferente de todas as outras séries que já vimos sobre adolescentes. São quatro episódios muito bem feitos, muito bem realizados, muito bem interpretados. O primeiro episódio tem imensa tensão. O episódio da escola é bastante perturbador. O último é o mais tocante (pelo menos, para mim). Fez-me pensar tanto. Não quero estar a contar muito. Está na Netflix. Vejam que não se vão arrepender.
Porque há vida para além dos Óscares, hoje falo-vos de Didi, um filme de que gostei muito. É o primeiro filme realizado por Sean Wang, americano de uma família de Taiwan, e é semi-autobiográfico. A acção passa-se no verão de 2008, na Califórnia, tendo como protagonista um rapaz de 14 anos de uma família de Taiwan, que vive os dilemas de todos os adolescentes agravados pelo questionamento da identidade e das referências culturais pelo facto de a sua família ser imigrante. Os críticos chamam-lhe um "coming of age comedy-drama". O actor Izaac Wang conduz-nos por essa angústia adolescente, um pouco perdido entre os vídeos amadores e as tábuas de skate, o acne e o aparelho nos dentes, a mãe e os amigos, o advento da internet (o YouTube e o MySpace) e a miúda gira por quem tem uma paixoneta. É um filme sem grandes pretensões mas que acaba por encontrar o tom certo.
"Sabermos que não temos mão na maior parte das coisas que acontecem é fundamental para o afrouxar da ansiedade." A frase é de Cláudia Lucas Chéu que, numa pequena crónica, resume muito daquilo que sinto. "Ainda hoje sofro bastante de um sentimento de querer controlar tudo, embora saiba agora o quão inútil e estúpido é este sentimento. Sei que não tenho mão em quase nada. As coisas acontecem e o que é preciso é saber lidar com elas ou não lidar de todo — por vezes fugir também é uma opção." A crónica intitula-se "Controlar o ingovernável" e é ilustrada por uma imagem do filme Lady Bird, de Greta Gerwig - uma cena que mostra a difícil relação entre filha e mãe.
Viver é, todos os dias, tentar "controlar o ingovernável". É muito isto que sinto na vida em geral e na relação com os meus filhos em particular. Vê-los crescer tem tanto de fascinante como de assustador. O amor mistura-se com o medo. As desilusões (podia fingir que não existem mas, sim, existem, no meu caso, muitas desilusões e frustrações e sentimentos de falhanço e até vergonha e todos esses sentimentos que estamos proibidos de dizer em voz alta mas que nem por isso deixam de ser reais) misturam-se com o orgulho. A vontade de lhes orientar os passos e garantir que tudo lhes corre bem e, ao mesmo tempo, sabermos que temos de deixá-los falhar e errar e descobrirem o seu próprio caminho.
Não podemos controlar tudo. Nem na nossa vida nem na vida dos filhos nem no mundo que nos rodeia. Aceitar isto não significa desistir dos nossos objectivos e dos nossos sonhos, não quer dizer que nos vamos sujeitar ao que acontece sem dar luta, que vamos deixar de fazer aquilo que achamos certo e que devemos e queremos fazer. Significa apenas (tentar) deixar de sofrer tanto, de nos angustiarmos e martirizarmos de culpa sempre que sentimos que as coisas fogem do nosso controlo. Aceitar as falhas e tentar aprender com os erros sem nos sentirmos a fracassar irremediavelmente.
Não é fácil, pois que não é. E eu só às vezes é que o consigo. Mas, ainda assim, continuo a tentar.
Fomos ver o espectáculo Meio no Meio, do Victor Hugo Pontes e da Arte em Rede, com um grupo de guerreiros-bailarinos maravilhosos. Os putos iam reticentes, como sempre. Eu, que escolho com pinças os espectáculos para vermos juntos, com medo que eles odeiem e acabem por não querer nunca mais ir comigo ao teatro, tremia um pouco por dentro, confesso. Mas foi bom. Foi muito bom. Foi emocionante e divertido e tocante e deu vontade de dançar e fez-nos pensar e a mim até me fez lacrimejar.
Pergunto-me muito o que ficará disto tudo. Das vezes que os levei ao teatro e a ver exposições, dos filmes e dos livros que lhes mostrei, dos passeios e das experiências que lhes proporciono, mesmo quando eles não querem, quando vão contrariados, a mal-dizer a mãe que lhes calhou na rifa. Será que fica alguma coisa? As pessoas à minha volta, talvez para me animarem, garantem que sim, que há sementes que só germinam mais tarde, que um dia a adolescência passa e todas as coisas boas que lhes demos vão finalmente revelar-se, mas às vezes tenho tantas dúvidas, parece que é tudo em vão.
Só sei que eles se divertiram ontem à noite, que gostaram, que talvez não tenham percebido tudo (sobretudo o mais novo) mas alguma coisa terão percebido e, se o espectáculo não serviu para mais nada, terá ao menos servido para lhes mostrar algo diferente dos vídeos parvos que eles vêem todos os dias no tictoc e no instagram.
Desta noite, para além do espectáculo, guardo os momentos passados a três. As músicas (horríveis) que o António nos fez ouvir no carro. O Pedro fascinado com a energia da cidade num sábado à noite. Os putos a descerem a rua do Carmo a toda a velocidade numa trotinete. Aquele momento em que me montei eu na trotinete, agarrada ao António, e desatei aos gritos julgando que ia cair e espatifar-me toda. As gargalhadas que demos juntos. As conversas que surgiram, as partilhas que só acontecem quando estamos relaxados. Só por isso já valeu o pena. E isso é muito.
Eu fui a Paris. Foi a minha loucura.
Fomos os três passar duas noites a Santa Cruz num sítio bem catita. Foi o nosso "momento família".
E depois fomos meia dúzia de dias para o Algarve já em modo "os meus e os amigos", que é uma coisa que resulta muito bem quando se tem filhos adolescentes.
Pelo meio, o Pedro teve uma semana de surf em Carcavelos, uma semana radical no Malhadal com a Junta de Freguesia e uma semana de actividades do clube de BTT.
E o António esteve em tantos sítios e com tantos amigos que é impossível agora dizer, só sei que quase não parou em casa e que ele elegeu estas como "as melhores férias de sempre".
Foram umas férias um bocadinho atípicas, como se previa. Mas palpita-me que a partir de agora a coisa vai ser mais ou menos assim. Cada um nos seus programas e, depois, tentar encontrar momentos, ainda que curtos, para estarmos juntos e sermos felizes fora da rotina infernal.
Estamos nesta aprendizagem, e até agora acho que nos estamos a sair bem.
Entretanto, no último dia de férias, o Pedro testou positivo para a covid e tivemos que ficar os dois em isolamento durante dez dias: ele no quarto a jogar playstation, eu na sala a trabalhar. Só assim para acabar em grande.
Já passou. Já levámos com o setembro em cima. E por mais que nos preparemos para isto nunca estamos preparados. Siga.
Já o sabíamos, desde o momento em que os segurámos nos braços eram eles apenas três quilos de gente a choramingar e a sujar as fraldas, mas à medida que crescem tomamos ainda mais consciência deste facto: o amor que temos pelos filhos é completamente irracional, incondicional e infinito. E isso é algo ao mesmo tempo maravilhoso e assustador. Não me canso de me surpreender com esta capacidade para amar de forma tão arrebatadora uma pessoa que tem as suas próprias ideias, tantas vezes contrárias às minhas, que faz escolhas com as quais posso não concordar, que tem atitudes que por vezes me parecem incompreensíveis, que regularmente me parte o coração e me deixa de rastos, a duvidar de mim mesma e da minha capacidade para ser mãe. Não toleraria isto a mais ninguém. Só aos filhos permitimos que nos façam sofrer assim. E no dia seguinte lá estamos a fazer-lhes festinhas na cabeça, a comprar o pão de que eles gostam para o pequeno-almoço, a pagar-lhes o Spotify Premium que nunca assinámos porque achamos que é dinheiro mal gasto, a perder noites de sono atormentadas pelas preocupações. E se ele não for feliz?, e só essa ideia é suficiente para sentir um aperto no peito que é quase insuportável. O amor que temos pelos filhos é resistente. Inquebrável. Gostarei de ti mesmo quando mais ninguém gostar, mesmo quando tu próprio não gostares (gostarei de ti mesmo quando não gostar). Só aos meus filhos poderei dizer isto tendo a certeza absoluta de que será sempre verdade.
E, no entanto, quando ele saiu de casa ainda há pouco, com a mochila às costas e os phones nos ouvidos, preparado para mais um recomeço, disse-lhe apenas "tem um dia bom". Acho que ele percebeu.
Não há teenblogs. Há muitos babyblogs - textos e mais textos e fotos e mais fotos sobre essa coisa avassaladora que é ser mãe e sobre as mil peripécias, boas e más, dos filhos. Mas não há teenblogs. A partir de uma certa altura, não dá para dizer exactamente quando, não há uma regra, as vidas dos filhos deixam de nos pertencer, já não podemos dispor delas quando nos apetece, muito menos expô-las ao mundo. É uma coisa que sentimos mas também pode acontecer (como me aconteceu) que os filhos nos peçam privacidade. Não querem que publique as suas fotos e não gostam de ser assunto de conversa. É justo. Além disso, parece-me, não há teenblogs também porque é difícil falar sobre esta culpa que nos consome por eles não serem exactamente como nós sonhámos. Falo por mim, claro: passo horas a cogitar o que possa ter feito de tão errado para os meus filhos não serem perfeitos e a desfazer-me por dentro com a culpa de não saber como agir, quais as palavras certas, o que poderei ainda fazer para correr atrás do prejuízo. Ainda irei a tempo?
Um dia vou escrever sobre isto, provavelmente quando tudo já tiver passado, para o bem ou para o mal.
Talvez por isto tudo tenha gostado tanto deste Desvio, o livro de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho. Saibam mais AQUI. É mesmo bom, garanto-vos.
Tínhamos o covid-19, tínhamos restrições financeiras e tínhamos um adolescente em plena fase tudo-o-que-for-com-a-família-é-um-aborrecimento.
Mas, por outro lado, tínhamos uma semana de férias em julho que, com a ajuda do layoff e das folgas devidas por trabalho no fim-de-semana anterior, se transformaram em 12 dias de descanso.
Pesando prós e contras, decidi que desta vez não iríamos ao Algarve e ficaríamos por casa. Em agosto logo se vê.
Para mim, só o facto de não ter horários, nem trabalhos da escola, nem nenhuma obrigação já é um descanso enorme. Eliminamos os principais focos de stress da nossa vida e tudo fica mais fácil. Mesmo. Aproveitei, então, para tratar de algumas burocracias que estavam pendentes e para fazer umas arrumações em casa (e muito ainda ficou por fazer). Os putos aproveitaram para dormir até mais tarde e jogar muita playstation. E depois tentámos, apesar do calor abrasador, sair de casa, apanhar sol e estar com alguns amigos. O António só se juntou a nós por um dia (tanto que havia a dizer sobre isto...) mas eu e o Pedro fomos várias vezes à praia na Costa da Caparica ou em Carcavelos, ao final do dia (depois das 17.00, às vezes depois das 18.00), só os dois ou com amigos, até ao pôr-do-sol, e por três vezes até conseguimos jantar na praia, ainda com areia nos pés e muitas gargalhadas à mistura. O Pedro está numa fase óptima (é aproveitar que isto vai passar, já se percebeu) e entre a prancha de bodyboard, os óculos de mergulho e a prancha de skimboarding, entretém-se na boa durante umas três horas.
Pelo meio, deixei o adolescente ir passar uns dias ao campo com os amigos, à sua vontade, e cometi duas extravagâncias:
Fomos os três por duas noites a um turismo rural perto de Santarém. Marquei isto há já algum tempo, aproveitando uma promoção, e ficou francamente acessível. Não era nada luxuoso mas tinha uma piscina e internet (foram as duas exigências dos miúdos), uma cozinha para preparar as refeições, muito silêncio e ar puro - tudo o que eu precisava para desintoxicar destes últimos meses fechada em casa.
E, neste último fim-de-semana, quando os miúdos estavam com o pai, fui passar uma noite a Tróia com um grupo de amigas. Éramos seis, todas a deixar maridos e/ou filhos, para conseguirmos pôr a conversa em dia, espairecer a cabeça e desfrutarmos deste tempo juntas, depois de tanto afastamento. Fomos no sábado logo de manhã, aproveitámos a piscina e a praia e voltámos a casa no domingo já à noite, todas bastante queimadas e muito felizes. Não me lembro da última vez que tinha feito uma coisa deste género mas já combinámos que havemos de fazer isto mais vezes. Porque foi mesmo muito bom.
Resumindo e concluindo: esta espécie de férias acabou por correr muito bem, muito melhor do que eu estava à espera, dentro do contexto. Descansei verdadeiramente a cabeça, estive com os miúdos sem zangas nem stresses, estive com alguns amigos de quem ainda estou a matar saudades e acabámos por nos divertirmos todos, eu e os putos, cada um à sua maneira.
Posso repeti-lo todos os anos e todos os anos será verdade: somos sempre mais felizes nas férias. Mesmo com uma pandemia e um baixo orçamento.
No outro dia fomos ao cinema ver o 1917. Eu e os meus dois filhos.
É engraçado. Para o António ir ao cinema não é sequer uma hipótese de programa com os amigos. Os amigos servem para jogar à bola ou playstation ou para ficarem horas a fio na conversa, a dizer parvoíces e a deambular por aí. Ir ao cinema? Eles estão habituados a ver os filmes e as séries nos telemóveis (ou, na melhor das hipóteses, no computador), com phones nos ouvidos, sozinhos. É uma experiência completamente diferente da que eu tive, quando ir ao cinema ao sábado à noite era não só a única maneira de ver algum filme como era também a única coisa que havia para fazer com os meus amigos. Já para estes miúdos, ir ao cinema é um desperdício de tempo útil com os amigos (certamente porque ainda não descobriram as maravilhas do "escurinho do cinema") e um desperdício de dinheiro. Uma pessoa argumenta com a qualidade da imagem e do som mas não é fácil. Talvez tenham de crescer mais um pouco.
De maneiras que, por agora, parece que ir ao cinema é um programa com a mãe. Uma coisa de cota. Que seja. Não me parece mal se isto se tornar "a nossa coisa em conjunto". Apesar de cada vez ver mais filmes em casa (é inevitável) eu gosto muito de ir ao cinema. E mal posso esperar pelo momento em que poderei ir com eles ver todos os filmes. Neste momento estamos numa fase complicada. O António já poderia ver tudo mas o Pedro ainda só tem 11 anos - ele é um valente e não protesta nem mesmo quando numa das nossas noites de cinema em casa vemos o Platoon e ele não percebe grande parte do que se passa. Mas, ainda assim, não convém exagerar. Gostou do 1917, não se queixou nem se aborreceu, mas pediu para da próxima vez irmos ver um filme "de acção". É justo.
Isto tudo é só um pretexto para dizer que o meu filho mais velho fez 16 anos. Ele não gosta de tirar fotografias e mesmo quando me deixa fotografá-lo não me deixa partilhar as fotos. E também não gosta muito que eu escreva sobre ele. Tenho que respeitar. Por isso só posso dizer-vos isto: o meu filho fez 16 anos e tem sido o maior desafio da minha vida. Em bom e em mau. Aliás, isto de ser mãe sozinha de dois rapazes tem sido uma aventura e pêras, uma daquelas coisas que só quem passa por elas é que pode entender. Um dia, quando isto tudo passar, talvez vos conte.
Por agora fiquem a saber que fomos ao cinema os três ver um filme de adultos. Não foi a Velocidade Furiosa nem o Homem Aranha. Foi um filme de crescidos, escolhido por mim. E isso, parecendo tão pouco, deixa-me muito feliz. São assim, tontas, as mães.