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Março, abril e maio foram meses bons, de muitas emoções e muita agitação. Mas não se pode estar sempre lá em cima. Depois daquelas duas semanas de campanha que me deixaram exausta e do trambolhão emocional da noite eleitoral, entrei numa espécie de ressaca de onde está a ser difícil sair. Não me apetece ver ninguém nem fazer nada. Portanto, tenho me deixado estar, simplesmente. Andei entretida com o ténis de Roland Garros (e que bela entretenga foi) e tenho visto filmes antigos, mas não muito antigos, dos 80s, 90s e 00s, uns não muito bons, outros um pouco melhores, filmes que não me chateiam muito a cabeça ou que me fazem chorar como uma madalena arrependida, só para passar o tempo. Pelo meio, também tive uma gripe que me mandou a baixo. Mais uns contratempos de trabalho. E esta semana estou a trabalhar à noite. Resultado: ando cansada, não tenho feito exercício e tenho comido muitas porcarias, sinto-me a engordar todos os dias um bocadinho e isso também não é muito animador. Isto tudo junto e mais as preocupações com os putos e a vidinha e a idade e as frustrações (e o mundo, o mundo está bastante deprimento também) é uma bela mistura. É como uma bola de neve. A parte boa é que já começo a estar farta de estar nesta fase. Não tarda nada passou um mês, já é tempo de reagir.
Tenho escrito sobre estas fases blah, e isso ajuda-me a perceber que isto acontece e que depois melhora, a aceitar esta montanha-russa mas, por outro lado, assumir que também está nas minhas mãos fazer algo para mudar. É uma batalha constante e temos de estar mesmo muito atentos para não nos deixarmos cair num poço sem fundo.
*
Coisas que ajudam: há discos novos dos Arcade Fire, dos Pulp e da Garota Não. Ainda estou a descobrir.
"Without love, you're just making a fool of yourself", in "Got to Have Love", Pulp
Quando olho para trás e procuro os momentos-chaves, os momentos transformadores na minha vida, penso sempre na vinda para Lisboa e para a faculdade, depois a entrada no jornalismo, depois os filhos, depois o divórcio e, finalmente, a pandemia. Há cinco anos ficámos em casa. Soube logo que ia ser uma experiência marcante, mas não poderia imaginar quanto. Aconteceu tanta coisa. Andámos dois anos às voltas com as máscaras e o álcool-gel. Foi há tão pouco tempo e, no entanto, parece que foi noutra vida.
A Vida Secreta dos Velhos, que fui ver hoje à Culturgest, é um espectáculo maravilhoso interpretado por um grupo de actores mais velhos que partilham as suas histórias amorosas, passadas e presentes. Uma das actrizes, com 92 anos, garante-nos que continua a sentir desejo. Outra fala-nos da importância da masturbação. Um homem recorda a sua iniciação sexual, com prostitudas. Outro lembra como os pais o repudiaram quando ele saiu do armário. Uma mulher revela que teve o seu primeiro orgasmo aos 65 anos. Outra que, finalmente, encontrou a felicidade, já depois dos 70. Um homem toma viagra. Outro frequenta saunas. Uma delas fala da importância de se sentir desejada por alguém. Muitas pessoas têm dificuldade em aceitar que os velhos continuam a ter vontades e prazer nos seus corpos flácidos. Eu própria, sentindo os anos a passar, às vezes, pergunto-me: como será quando eu envelhecer? Será diferente do que era quando tinha 20 anos, com certeza. Será diferente do que é aos 50. Mas alguma coisa será. "Agora, de cada vez que faço amor, digo a mim mesmo: Pode ser a última vez, então trata de te aplicares", conta um dos actores. É um belo conselho. O que este espectáculo nos mostra, com humor mas também de forma muito emocionante (e eu chorei muito), é que todas as pessoas, independentemente da sua idade, precisam de amar e ser amadas. Os velhos somos nós (se tivermos sorte). Os velhos que nós seremos serão tanto mais felizes quanto nos deixarmos de merdas e aceitarmos, com naturalidade, a sua (nossa) vida sexual, seja ela como for.
Infelizmente, não haverá mais apresentações deste espectáculo criado pelo encenador francês Mohamed El Khatib. Mas podem sempre ler o texto do Gonçalo Frota para ficar a saber mais.
Lembrei-me deste texto e também me lembrei muito dos meus velhos amigos da Companhia Maior, de quem eu tanto gosto.
Para tentar fintar a neura de novembro, recorri aos amigos e à arte. Para além deste espectáculo, aconteceram coisas como:
Um filme: Por ti, Portugal, eu juro. Documentário da Sofia da Palma Rodrigues com a equipa da Divergente, é um extraordinário documento sobre um tema pouco (nada) falado: os Comandos Africanos da Guiné, jovens guineenses que foram forçados a combater pelo exército português, mas que, depois do 25 de Abril, foram abandonados por Portugal e perseguidos pelo novo poder da Guiné.
Um concerto: Dora Morenlebaum. Foi no Musicbox, levada por uma amiga, que descobri esta artista brasileira que até então desconhecia. Filha do violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum e da cantora Paula Morelenbaum, tem 28 anos e muito boa vibe. Junta bossa nova, jazz, disco, funk e o que mais apanhar à mão. Foi um belo serão.
Um espectáculo: O céu da língua, de Gregório Duvivier. Uma viagem em volta da língua portuguesa e da poesia que se escreve com essa língua. Muito divertido mesmo. Muito inteligente. É tão bom e tão raro ter oportunidade de rir assim com um espectáculo.
Outro espectáculo: Volta para a tua terra, de Keli Freitas (de quem já tinha falado AQUI). A artista brasileira continua a mergulhar na sua história para fazer pequenos espectáculos de teatro documental. Desta vez, sobre a vinda para Portugal e o significado das travessias. Mas também sobre a investigação à sua família e a necessidade de saber de onde vem. Tal como no outro espectáculo que tinha visto dela, voltei a ficar com a sensação de estar "incompleto", uma vez que são colocadas perguntas que ficam sem resposta, começam a contar-se histórias e ficamos sem saber o seu desfecho. Imagino que seja propositado. Percebo que se queira contrariar esta obrigatoriedade de contar histórias com princípio, meio e fim. Mas eu fiquei com vontade de mais. De saber mais. De saber como acabou. Ainda assim, gostei muito.
Claro que nada disto - nem os filmes, nem as músicas, nem os espectáculos, nem sequer os amigos que me deram colo e copos de vinho, que me fizeram rir e desfrutar momentos de verdadeira felicidade, fosse a ouvir poesia ou simplesmente a conversar - resolveu a frustração com o trabalho ou apaziguou as preocupações que me afligem por causa dos meus filhos. Mas estas coisas ajudam. A vida é isto tudo. O bom e o mau misturado. Os problemas e as alegrias, as aflições e as gargalhadas. É preciso ir juntando coisas boas, sempre, para não nos deixarmos abater pelas coisas más.
Hoje, saí do teatro e vim no metro a pensar no que aqueles actores disseram. “Vou amar-te toda a vida, porque a vida pode acabar a qualquer instante", disse um deles. Não é preciso ser velho para perceber isto. Passei no supermercado para comprar ovos, senti umas gotas de chuva no cabelo, enrosquei-me no sofá com o meu filho, fiz um bolo de iogurte, sentei-me a escrever este texto. São tantas as coisas pequenas que me fazem feliz. E, depois, novembro está quase a acabar.
Odeio novembro tanto quanto gosto de outubro. Não gosto dos dias curtos, deste chove-não-molha, de pagar o IMI e o seguro do carro. Além disso, é aquele mês em que (mais uma vez) perco as ilusões e volto a ter que enfrentar a realidade de mais um ano lectivo complicado. Testes, discussões, testes, mais discussões. Como se isto não fosse já suficientemente deprimente, este novembro voltou a trazer-nos Trump. Estou com uma neura que nem eu me aturo.
O melhor de novembro é o subsídio de natal, mas ainda falta tanto para lá chegar...
Washington, EUA, 6 de novembro de 2024
Foto de Jim Lo Scalzo/ EPA
"How do you keep the music playing?
How do you make it last?
How do you keep the song from fading
too fast?
How do you lose yourself to someone
and never lose your way?
How do you not run out of new things
to say?
And since you know we're always changing
How can it be the same?
And tell me how year after year
You're sure your heart won't fall apart
Each time you hear his name?
I know the way I feel for you is now or never
The more I love, the more that I'm afraid
That in your eyes I may not see forever, forever
If we can be the best of lovers
Yet be the best of friends
If we can try with every day to make it better as it grows
With any luck then I suppose
The music never ends
I know (how do you keep the music playing)
the way I feel for you is now or never (how do you make it last)
The more I love the more that I'm afraid
(how do you keep the song from fading)
That in your eyes I may not see forever
(Keep the song from fading)
Forever
If we can be the best of lovers
yet be the best of friends
If we can try with every day to make it better as it goes
With any luck then I suppose
The music never ends"
How do you keep the music playing, Frank Sinatra
(ando numa daquelas fases blhéc, não me apetece falar com ninguém, não tenho tido muito para dizer nem tenho feito nada de jeito, a não ser trabalhar e resolver assuntos da vidinha, às vezes parece que é assim, a vida atropela-nos e ficamos meio assoberbados. como sempre, é uma fase e vai passar. espero que a próxima fase meta fatos-de-banho e dias de férias, sem preocupações nem dores de cabeça. devia jogar no euromilhões. devia comer mais fruta. devia relaxar. apanhar sol. fazer ginástica. ouvir mais música. definitivamente. "If we can try with every day to make it better as it grows, With any luck then I suppose, The music never ends". que venha junho.)
Andei aí uns tempos com a telha. Estou a falar no passado sem grandes certezas, mas porque sou uma pessoa optimista. Andei com a telha que é como quem diz andei aí uns tempos a achar-me a pessoa mais infeliz e injustiçada do mundo, a ver tudo negro à minha frente, como se os problemas não tivessem resolução e as dificuldades fossem inultrapassáveis. Nestas fases, quando me sinto assim, fecho-me sempre um bocadinho, o que não é propriamente uma boa estratégia. Sem me apetecer fazer nada nem falar com ninguém nem sequer pensar muito no assunto, o sentimento de solidão adensa-se. A verdade é que não podemos contar sempre com os outros. Os amigos têm as suas vidas. Têm almoços de família ao domingo. Têm companheiros com quem passam os serões. Têm filhos pequenos com quem fazem os programas que eu também fazia quando tinha filhos pequenos. Os meus amigos, na sua maioria, não conhecem esta solidão, e eu não quero estar a chateá-los com as minhas tretas. E quem vê no instagram não imagina, não é? Como poderiam saber que por trás daquelas fotografias bonitas também bate um coração? De maneiras que a telha. E porquê? Não há um motivo concreto. Há uma série de coisas que existem na minha vida e que chega ali um momento em que parece que me pesam mais, sem razão para tal. Os putos não se estão a portar pior do que antes. O trabalho não está mais insuportável. A vida não está mais difícil. Simplesmente acontece que eu estou com menos tolerância e tudo me parece pior e talvez as hormonas não ajudem. Isto não é uma depressão. São fases. Conheço-as bem. O problema é quando as fases se prolongam. Esta foi longa.
Neste entretanto, mesmo com a telha, aconteceram coisas bonitas, há que dizê-lo.
Fui a um workshop de crochet na Retrosaria e descobri que o crochet não é para mim.
Fui ver e ouvir a Ana Lua Caiano (vale a pena descobrir).
Li o livro da Anabela. E houve momentos em que ela era eu.
Ouvi muitas músicas da Rita Lee e da Tina Turner. Não chorei, mas fizeram-me pensar nisto tudo.
Fui ao concerto do Chico Buarque. E, mesmo a ouvir mal, chorei, ao lado da Ângela.
Passei uma tarde com a Sandy e outras pessoas fixes a pensar em podcasts.
Fui ver e ouvir o Luís Miguel Cintra, tão magrinho, tão frágil, na Feira do Livro. E voltei a chorar. (um dia vou escrever sobre isto.)
Estou a ler os livros da Annie Ernaux e a surpreender-me com a consciência que ela tem de si mesma. Com a forma despudurada como se expõe (ter vergonha do quê? sou como sou). Que lição.
Obriguei-me a estar com pessoas. E acabei por ser feliz nesses momentos. Porque estar com as nossas pessoas é bom (mesmo que eu não goste nada do festival da canção e não seja a maior fã dos santos populares). Juntar-me a um clube de poesia de gente bonita que me obriga, todos os meses, a sair da minha zona de conforto, foi uma das melhores decisões que tomei há quase um ano.
É assim que, lentamente, estou a partir a telha.
Isto é uma coisa que resulta para mim. Comprometo-me com coisas que tenho de fazer e comprometo-me com outras pessoas. Obrigo-me a planear eventos para o futuro. Por exemplo, pelo sim, pelo não, já comprei vários bilhetes para ir ver espectáculos nos próximos tempos. E garanto, assim, que num dia destes, mesmo que me apeteça muito ficar em casa, vou ter que me forçar a sair. Tal como me forcei a fazer muitas das coisas atrás descritas.
Não há receitas. Cada pessoa é uma pessoa. E não temos que estar sempre felizes e esfuziantes. Mas convém estarmos atentos. Até porque, como canta o Tom Jobim (mas o poema é de Vinicius), "tristeza não tem fim, felicidade sim".
Sou só eu que, apesar de toda a alegria rítmica, ouvi esta canção e senti que ela estava a falar de como sair de uma depressão?
"Bom-Bom", Batida feat. Mayra Andrade
"Hoje lutei p'ra conseguir me levantar
Quando acordei, meu coração quase parou
Sei que sonhei, mas não consigo recordar
Eu me deixei até que a vida me chamou
(...)
Na zunga zango, não me deixam respirar
Vou acatando, mascarando meu olhar
Fazem feitiços que te chegam a matar
Risos postiços branqueiam o mau olhar
(...)
Estou a aprender a dizer não, ai
Não desejar que é só p'ra mim, dá
Quem vive só, só do seu céu cai
Ubuntu é junto, vamo' lá
(...)
Planeta tá Wazebele
Ser humano complica
Desacata, não maia
Porque eu sei que vai
Planeta tá Wazebele
Nenhum mal é p'ra sempre
Numa dança infinita
O bom vai vir, eu sei, o bom vai-ai"
Covid-19. Outra vez. Exactamente seis meses depois.
Experiência de doença muito parecida, só que em vez de começar com dor de garganta começou com nariz entupido. Evolução muito rápida nas primeiras horas para um estado gripal e, depois, aquela tosse que vai dando um ar da sua graça (e ainda por aqui anda).
Experiência muito pior com o SNS. 48 horas depois do teste na farmácia (que me custou 15 euros) continuava sem receber qualquer mensagem com a declaração de isolamento. Passei, então, várias horas ao telefone a tentar falar com a Saúde 24. Às vezes a chamada caía. Outras vezes fiquei num loop de "digite o número de utente", "responda às questões com sim ou não", "aguarde o atendimento", e passados uns minutos de espera recomeçava tudo do início. Houve uma vez em que de facto consegui falar com uma assistente que, depois de me perguntar tudo de novo, achou por bem reencaminhar-me para o serviço clínico e vai daí fiquei mais dez minutos à espera até a chamada cair. Várias tentativas depois, lá consegui, sei lá como, que uma voz automática me garantisse que iam enviar a declaração. Mandaram, sim, mas com a data errada, uma vez que a máquina não percebeu que eu já estava há dias a tentar ter a porcaria do papel. Adiante.
Estou há sete dias em casa, molengas mas sem mais problemas. Isolada, praticamente sem falar com ninguém dias inteiros. Vi montes de coisas na televisão (quem diz televisão diz streaming, ok?). Fiz chili com carne, lulas recheadas, filetes de peixe panados, brigadeiros de chocolate. Cozinhar, sobretudo cozinhar coisas complicadas, que exigem total atenção e mexer com as mãos na comida (como rechear as lulas ou panar peixe ou fazer bolinhas de chocolate), continua a ser uma das minhas terapias preferidas. Mas é uma terapia que engorda e suja muita louça.
Estou farta de estar em casa. Amanhã regresso à vidinha. Ainda nem voltei e já estou farta da vidinha. Precisava de férias. Férias disto tudo. Férias de mim, isso é que era.
Não sejamos injustos. Houve coisas boas em 2021.
Novos trabalhos, novos desafios.
Voltei a fazer yoga. Sou péssima mas estou a esforçar-me.
A viagem a Paris.
Os bons momentos com os meus putos.
Caminhar, voltar aos transportes públicos, andar a pé sempre que possível.
Voltei à terapia. Também sou péssima nisto mas estou a esforçar-me.
Os meus amigos (vocês sabem quem são). Não estive com eles tanto quanto gostaria mas aproveitei todas as oportunidades para encontrá-los, abraçá-los e mostrar-lhes o quanto são importantes para mim.
Fiz uma amiga nova ("e coisa mais preciosa no mundo não há").
Os espectáculos que vi, os filmes e as séries, os livros (poucos mas bons), as músicas que descobri e todas as outras coisas boas da vida.
A família reunida e feliz no dia do meu aniversário.
Os sonhos do natal.
Para 2022 só queria isto tudo mas mais.
Tenho passado os dias entre o trabalho e os Jogos Olímpicos de que, como vocês devem saber, sou grande fã. Sou aquela maluquinha que, mesmo já sabendo os resultados, põe a box para trás para ver o que perdeu durante a madrugada. Gosto particularmente do atletismo e da ginástica. Desde sempre. E foi por isso com grande pena que vi a Simone Biles desistir de quase todas as suas provas. Nem consigo imaginar o que ela deve estar a sentir. Primeiro, não consigo imaginar o que é ter 19 anos e estar a competir nos Jogos Olímpicos e ganhar tantas medalhas, como aconteceu com ela no Rio de Janeiro. A mim, que se me acelera o coração se tiver que falar em público, que ainda hoje me tremem as pernas se sentir que estou a ser avaliada em qualquer situação, acho que nunca seria capaz de competir em coisa nenhuma. Não consigo imaginar como será ser a melhor do mundo e sentir toda a pressão que ela sentiu para repetir os feitos, como aconteceu antes destes jogos. E, finalmente, não consigo imaginar como será treinar durante tanto tempo - praticamente uma vida inteira - e com tanto empenho para, depois, chegar ali, ao momento mais importante, e desistir. Mas uma coisa eu consigo imaginar: o sofrimento enorme que esta decisão lhe deve ter causado. Não é uma decisão que se tome de ânimo leve. Para que um atleta, seja a Simone ou outro qualquer, tome a decisão de desistir de uma prova nos Jogos Olímpicos tem de sentir verdadeiramente que não tem outra opção. Alguém duvida disto? Acho incrível que algumas pessoas venham para aí comentar que ela desistiu porque é fraquinha ou que foi tudo uma estratégia para chamar a atenção ou que ela estava era com medo de falhar. A sério. Fico passada com a falta de noção.
É tão surpreendente que, chegados aqui, ainda haja tanta gente que desvalorize a saúde mental e que ache sempre que as pessoas estão a exagerar ou são fracas por assumirem que têm problemas. Está na hora de mudar isto. Talvez o facto de Simone (tal como Naomi Osaka há uns tempos) se ter sentido à vontade para desistir seja um sinal de que as coisas já estão a mudar. Talvez.
Tenho falado um pouco sobre saúde mental por aqui.
E sobre os Jogos Olímpicos havia tanto a dizer. Estes jogos do Japão estão cheios de histórias e pessoas incríveis. Mas, de todos, este é o meu momento preferido: quando o italiano Gianmarco Tamberi e o atleta do Qatar Mutaz Barshim decidem partilhar a medalha de ouro do salto em altura.