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Tenho muitas dúvidas que vá conseguir fazer pão em casa. Mas esta tarde de sábado bem passada já ninguém me tira. Aprendi muito a ouvir o senhor João, guardador de sementes antigas, e a Ana Raquel, que nos iniciou nos segredos da massa-mãe. Além disso, estive com pessoas boas (umas amigas, outras completamente desconhecidas), desligámos do mundo durante umas horas, metemos as mãos na massa e comemos pão quente feito por nós, o que é todo um orgulho que nem vos conto. Se não fizer mais pão, estarei pelo menos mais atenta ao comprar.
O avental lindo foi bordado pela minha mãe.
As gargalhadas que se imaginam sonoras são minhas, claro.
Domingo às oito da manhã estava na cozinha a fazer massa com atum, antes de ir trabalhar. À hora do almoço liguei ao António, que estava sozinho em casa. "Está óptima, mãe, mesmo boa", disse-me, com a boca cheia, enquanto tirava garfadas de massa directamente do tacho, sem sequer a aquecer. Senti-me feliz. Acho que foi o melhor momento do meu dia da mãe.
Cozinhar para os outros, ainda que seja cozinhar uma coisa banal como massa com atum, é um ato de amor tão importante como dar braços.
Fui comer sardinhas com duas amigas do trabalho. Estávamos a terminar o dia e de repente estás livre? eu também, que coisa rara, bora. Fomos. Esta espontaneidade. É uma das coisas de que tenho saudades da minha vida pré-filhos. Não que eu tivesse uma vida assim tão preenchida e fizesse assim tantas coisas, mas poderia fazê-las, se quisesse, e isso faz toda a diferença na minha cabeça. Agora há sempre que ter atenção aos horários, os horários da escola, do futebol, de estudar, de dormir, de acordar. Os horários e as vontades deles. Se quero fazer alguma coisa fora da rotina tenho que tomar tantas diligências que acabo por desistir.
Fui comer sardinhas a Alfama com duas amigas, só isso, uma coisa tranquila, beber sangria, conversar, comer pimentos assados, ficar com as mãos a cheirar mal, rir com gosto. Nem era meia-noite quando apanhámos o metro de volta para casa. E foi tão bom como se tivesse ido desbundar para uma praia paradísiaca longe daqui.
E isso lembra-me que já falta pouco para os putos estarem de férias e para entrarmos nos melhores três meses do ano. São só mais duas semanas. E estamos em contagem decrescente.
Foi uma semana cheia de imprevistos, desilusões, coisas más, desmotivação geral, chuva e hormonas aos saltos. Mas também foi uma semana com:
A Marta Gautier a explicar a diferença entre "alfas" e "betas" no espetáculo Pessoas Estranhas.
Almoçar sozinha (entretida com as conversas das outras mesas) a comida bem boa de A Luz Ideal.
As vidas banais da série Easy, no Netflix.
Fazer biscoitos. Molhá-los no leite morno.
Jantar em casa de amigos. Beber vinho. Trocar confidências. Gargalhar.
Cometer loucuras, porque é bom.
O jogo que importa foi ganho pelos nossos miúdos.
Os abraços deles (mesmo quando são umas pestes).
Um fim-de-semana inteiro quase offline. Neste momento, desligar é a palavra de ordem cá em casa.
Quando te sentires a perder o pé, flutua. Recupera o fôlego. E continua.
No outro dia, fui tomar café com uma amiga ao miradouro da Graça e acabei a almoçar num restaurante vegetariano muito fixe. Espaço simpático, comida boa (comi um hamburguer de seitan e beterraba), menu de almoço a 9.90 (inclui sopa, prato, limonada e café). É para ir sem pressa que a comida leva tempo a preparar. Mas na boa. Só foi pena terem a Smooth FM a tocar (sou só eu que já não aguento aquela música de bar de hotel em todo o lado?). Mas fica a dica: chama-se Graça 77 e fica, como o nome indica, no Largo da Graça, número 77.
A fotografia foi tirada do Facebook do restaurante mas mostra um prato igual ao meu (e não, isto não é publicidade, é só mesmo partilhar coisas bonitas)
1. Fui almoçar ao Mezze, o restaurante de comida do médio Oriente no Mercado de Arroios que abriu em setembro do ano passado e que tem também como missão fomentar a integração de refugiados sírios. Tenho acompanhado o projecto nas redes sociais mas ainda não tinha tido oportunidade de lá ir. Aconselho mesmo. Boa comida, boa onda. Não vos consigo dizer o que comi (e também não tirei fotos) mas era tudo bom e em quantidade mais do que suficiente. Não é propriamente barato (paguei 17 euros) mas vale a pena a experiência. Fiquei com vontade de voltar e experimentar outros pratos.
2. Fui ao cinema. Tenho visto muitos filmes no computador, admito, mas esta é sempre uma solução de recurso. Nada se compara a ver um filme no grande ecrã. Gosto mesmo de ir ao cinema, mesmo que seja numa matiné às duas da tarde, numa sala quase vazia, só com meia dúzia de velhotas. Fui ver o Phantom Thread/ Linha Fantasma, de Paul Thomas Anderson, com Daniel Day-Lewis e Vicky Krieps. É a história de um estilista muito conceituado, requisitado pela senhoras da alta sociedade, na Londres na década de 1950. E de como a jovem Alma consegue penetrar nesse seu mundo cheio de regras e de rotinas. É um filme muito bonito. Muito bem realizado. Muito bem interpretado. Com uma música obsessiva de Johny Greenwood. Cheio de mistérios e de vestidos lindos. É também um filme sobre aparências. E sobre o amor (parece que andamos sempre a falar do mesmo). E de como o amor nem sempre é como nós achamos que devia ser.
3. A música de Sufjan Stevens. A música que ele fez para Call Me By Your Name e as outras, algumas que eu já conhecia e outras que não conhecia. Tem sido a minha banda sonora nos últimos dias.
Ainda não fui ver o mar. Mas um dia de folga a meio da semana, com isto tudo e ainda a passear sozinha ao sol pelas ruas de Lisboa, em silêncio, pode ser suficiente para recuperar a energia. Respirar. Para não sufocar.
Descobri há relativamente pouco tempo que cozinhar é uma das melhores terapias do mundo. Passo cada vez mais tempo na cozinha, sou feliz a experimentar receitas e a preparar comidas elaboradas, com tempo (não sou lá muito feliz a ter que fazer todos os dias, à pressa, depois de uma jornada de trabalho, jantares sem graça nem molhos para os meus filhos esquisitinhos, mas adiante). É também por isso que admiro a Joana. Pela alegria que ela tem a cozinhar. Mas, sobretudo, admiro a Joana Barrios pela sua liberdade, pela capacidade de ser exactamente como quer ser, sem ligar a estereotipos, ao que os outros possam dizer, a preconceitos.
Foi um prazer enorme conhecê-la de perto (e descobrir que é alentejana!). A conversa que tivemos, a propósito do seu livro de receitas, Nhom Nhom, foi publicada no domingo na revista Notícias Magazine e pode agora ser lida AQUI.
A fotografia é da Diana Quintela/ Global Imagens.
A pretexto de uma açorda juntaram-se 14 colegas de curso e suas famílias num monte em Reguengos de Monsaraz. A pretexto de uma açorda, e aproveitando as férias da Páscoa, houve quem viesse dos Açores e houve quem viesse de Londres. Vieram amigos próximos, amigos distantes, gente que não se via há mais de 20 anos, gente de quem eu já não me lembrava. Era, à partida, o grupo mais improvável. Mas se há sítio bom para fazer amigos ou para retomar amizades antigas é à volta de uma mesa, com uma poejada com feijão e bacalhau, ovos com espargos, ovos com silarcas, favinhas, muitos queijos, pão maravilhoso e, claro, a prometida açorda de alho. Vinhos da terra. E até um gin produzido ali bem perto. Chegámos a ser 21 adultos à mesa, 16 crianças e dois cães. Conseguem imaginar? A Márcia e o Zé, nossos anfitriões, receberam-nos com uma generosidade e uma alegria enormes (a trabalheira que devem ter tido a preparar aquilo tudo). Visitámos a adega de Reguengos e a Herdade do Esporão, fomos passear a Monsaraz, houve quem molhasse os pés no Guadiana ao entardecer, houve quem se atrevesse numa moda alentejana. E conversámos e gargalhámos. Havia mesmo muita conversa para pôr em dia. E enquanto isso, os miúdos brincaram na terra, andaram de tractor, correram atrás das galinhas, ficaram bronzeados do ar do campo.
A pretexto de uma açorda, passámos um fim-de-semana mesmo bom. Longe de tudo. Sem pensar na vidinha. Só a aproveitar as coisas boas da vida. E esta felicidade de estarmos uns com os outros.
Nem eu sabia, mas estava mesmo a precisar disto.
Walking, not running. Uma peça de teatro para esquecer. Deixem o pimba em paz com a Cris no Terreiro do Paço. Um gin com música ao vivo. Um filme chinês: Regresso a Casa. Cerejas. Uma comédia romântica: Trainwreck. Mojitos com vista sobre a cidade. Um cheirinho a santos populares. Andar descalça. Comer pizza, ir à praia e dar gargalhadas com amigos bons. Caminhar um bocadinho mais. Futebol. Requeijão com doce de abóbora e um livro novo.
E ainda: não fazer nada.