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Nos últimos dias o meu mail tem sido invadido por propostas para o dia dos namorados. Hotéis, restaurantes, passeios, lojas, há sempre alguém que tem o segredo para apimentar o meu romance ou quer proporcionar-me a noite mais romântica de sempre. Eu apago todos os mails sem sequer os ler. Não me interessam. Não ligo nenhuma ao dia dos namorados. Mas se quisesse mesmo um presente especial para oferecer neste dia já saberia o que comprar: Word Cookies. Já ofereci várias, sempre diferentes, procurando a mensagem que mais se adequa a cada situação. Estas são as bolachas para o são valentim. Vejam lá se não dá mesmo vontade de estar apaixonado?
Recebo todos os dias no meu mail sugestões para o dia dos namorados. Spas, hotéis, perfumes, jóias, relógios. Ignoro. Apago. Acho que nunca troquei presentes no dia dos namorados. Mas estes cartões servem perfeitamente para qualquer dia do ano. Ora vejam:
E, dito isto, fui comprar umas botas exactamente iguais às que tinha calçadas. Sou mesmo uma pessoa arrojada, ein?
E para mim aquilo é assim mais ou menos como ir à feira, só que não há farturas e a roupa está pendurada em cabides em vez de estar aos montes. De resto, é igual: uma multidão de gente aos encontrões, a qualidade das peças deixa muito a desejar, e é preciso ter muita paciência e algum jeito para encontrar "aquelas" coisas que até valem a pena. Eu não tenho essas capacidades. Com grande pena minha.
Não sou fã de centros comerciais. Sou imune a montras de roupa, sapatos, malas. Posso atravessar a Zara de uma ponta à outra e não ter a mais pequena vontade de comprar alguma coisa. Mas não é verdade que não gosto de compras. Ainda hoje, quando fui ao Ikea, caminhei a direito, concentrada naquilo que já sabia que queria trazer, sem olhar para o lado, fazendo um esforço enorme para não me distrair com descascadores de batata, bases para copos, galheteiros, caixas e caixinhas, cabides, panos de loiça, bonecos coloridos, canecas, almofadas, coisas que às vezes nem sei bem o que são mas que me parecem sempre tão giras, tão úteis, tão baratas. Consegui. Comprei só aquilo que queria à partida. Mas saí de lá assim com uma sensação de vazio...
As outras mulheres que eu conheço gostam de andar nas lojas e de comprar roupa e sapatos. Eu fui ao Colombo e, quase duas horas depois, saí de lá com dois livros e um pacote de puré para fazer o empadão pro jantar. Não se iludam. Isto não faz de mim uma pessoa mais interessante. Apenas mais mal vestida.
Há um ano e meio que não entrava numa loja para comprar roupa para mim. Leram bem: um ano e meio. A última vez tinha sido quando engravidei e, com a barriga a crescer, pareceu-me que precisava de umas calças. De então para cá, a gravidez e depois o parto, os quilos e a recuperação, no Verão qualquer trapinho serve e no Inverno, com aniversário e natal, os meus mais próximos, sabendo deste meu feitio, oferecem-me sempre blusas e casacos que me sabem que nem ginjas. Recuperei a roupa de há dois anos, que na verdade já tem quatro, cinco ou mais anos, e vesti-a sentindo uma alegria profunda por ela ainda me servir. Que bom, quer dizer que não engordei assim tanto. Que bom, quer dizer que não tenho que ir à loja. É que eu, ao contrário das outras mulheres, não vim equipada com o chip das compras. Não me divirto a ver montras, angustiam-me os centros comerciais, não tenho a mais pequena paciência para procurar roupa, acho sempre tudo horroroso e demasiado caro, nunca encontro nada do que quero e detesto, detesto mesmo, ter de experimentar. Despir, vestir, despir, vestir. Ali, naquele cubículo, naquele metro quadrado de sofrimento, não tenho escapatória e sou forçada a confrontar-me com o meu corpo rechonchudo que não se adequa, por mais que eu puxe, por mais que estique, não se adequa aos modelitos da estação. A culpa é do espelho, a culpa é das luzes, a culpa é dos designers que fazem roupa que não se consegue vestir, roupa que só fica bem aos bonecos de madeira que eles têm nas lojas com as camisas presas por alfinetes. Mera ilusão. A mim quando as calças me servem no rabo ficam largas na cintura, quando as blusas me cabem nos braços ficam a baloiçar nas mamas. Mas que raio, não hei de comprar XL porque não quero, recuso-me sequer a experimentar algo como um 44. Mudo de loja, mudo de marca, posso até nem comprar a roupa da moda mas hei de encontrar qualquer coisa que não me faça parecer um saco de batatas. Ou então, não. Ou então, como quase sempre, desisto. Não compro. (...) Há um ano e meio que não entrava numa loja para comprar roupa para mim mas hoje lá fui. Teve que ser. Depois de duas horas de sacrifício voltei para casa com uma dor de cabeça e um saquinho com a roupa para a festa. O que a gente não faz pelos amigos que se amam e decidem casar.