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publicado às 14:05

Sabem quando uma mulher perde o chão e só tem vontade de chorar e nisto aparece um dos filhos e diz uma coisa qualquer sem importância, pode ser “mãe, o Marcelo quebrou a minha boneca”, e a mãe limpa as lágrimas, respira fundo e pega na boneca, “Ah foi?, deixa eu ver”? Essa mãe é Eunice Paiva, mas podia ser outra qualquer. As mães não têm tempo para ficar sofrendo. É preciso garantir o pão e o sorriso das crianças, é preciso que a vida continue como sempre foi, ainda que, de repente, o pai já não esteja presente e nada volte a ser igual.

Gostei muito do filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles. E gostei muito da Fernanda Torres.

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publicado às 22:58

Já passou algum tempo mas não queria deixar de vir aqui escrever porque quero mesmo guardar comigo esse momento maravilhoso que foi o espectáculo A Colónia, de Marco Martins. Antes de ir eu já sabia que ia gostar. Primeiro, por ter a ver com o Estado Novo e os presos políticos, e depois porque gosto muito de teatro documental e tenho esta panca com tudo o que tenha a ver com a memória e a fixação das memórias. Ainda assim, nada me preparou para esta avalanche.

A ideia surgiu de uma reportagem de Joana Pereira Bastos, publicada no Expresso, sobre a colónia de férias para filhos de presos políticos, que aconteceu em 1972, nas Caldas da Rainha e que, durante duas semanas,  juntou 18 crianças entre os 3 e os 14 anos. Mas o que se conta em palco vai muito além disso. Partindo dos testemunhos de duas dessas crianças, hoje crescidas, a Manuela e a Rita, e com a ajuda de Conceição Matos e Domingos Abrantes, começa-se por recordar o sistema opressivo em que se vivia, contar como era a vida dos opositores ao regime, a clandestinidade, a prisão e a tortura pela Pide. Só depois é que se passa para a colónia, juntando os testemunhos da monitora e de mais três dessas crianças. Como era para uma criança viver na clandestinidade, sem saber o seu verdadeiro nome e sem brincar com outras crianças? Como foi ver o pai a ser preso ou visitar o pai na prisão? 

Não se limitando a ter estas pessoas todas em palco a contar as suas histórias, o que já seria brutal, Marco Martins criou um espectáulo cheio de camadas e de uma grande beleza, com os extraordinários actores João Pedro Vaz, Sara Carinhas, Ana Vilaça e Rodrigo Tomás (e aquele achado inicial - viver em clandestinidade era, também, representar, interpretar diversas personagens), a que se juntaram um grupo de jovens actores e ainda B. Fachada e um pequeno coro infantil. E aquilo que era a história de um grupo de crianças passa a ser a história de um povo, a nossa história, a história das crianças e dos jovens de hoje, que se perguntam afinal o que é isso de ser livre.

Posso dizer-vos que chorei muito e embora isso não queira dizer nada sobre a qualidade da obra quer dizer muito sobre o quanto me tocou e me abalou. É muito importante que estas histórias sejam contadas uma e outra vez, que não sejam esquecidas. Fascismo nunca mais, gritou-se no momento dos aplausos. Fascismo nunca mais. Fascismo nunca mais.

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Ainda deste último mês temos a assinalar:

A Reunião, um espectáculo bonito e igualmente importante do Teatro Meridional. Confesso que não sou a maior fã de commedia dell'arte e nessa noite estava um pouco cansada e talvez não tenha apreciado devidamente a peça, mas o texto do Mário Botequilha é muito bom.

Um grande concerto dos Expresso Transatlântico no MusicBox. São todos óptimos, mas o Gaspar Varela tem, de facto, uma energia especial.

Um workshop com a Ana "apetite pela vida" sobre comida saudável, sem açúcares nem processados nem proteína animal. Vim de barriga cheia e com muitas dicas para melhorar as receitas cá de casa.

A figura do ano para mim é, sem dúvida, Gisèle Pelicot. No meio de todo o horror, esta mulher dá-nos alguma esperança. Este caso mexeu muito comigo e penso que não exagero quando digo que através da sua análise podemos perceber um pouco do tanto que precisamos mudar enquanto sociedade. 

(temos outras coisas a assinalar, boas e más, mas vou tentar escrever sobre elas com calma)

Ainda nem é natal e já estou empaturrada. De comida, sim, mas sobretudo de amor. Dezembro tem esta magia, fazemos um esforço para encaixar na agenda encontros com os amigos (não todos, mas quase). Só nesta última semana contaram-se um almoço e três jantares, deitando por terra o esforço dos últimos meses para comer menos e para comer melhor. Sim, eu sei, eu sei, se eu tivesse realmente força de vontade conseguiria, mas não tenho, portanto isto anda assim mais ou menos ao sabor do vento e das flutações da minha vida e da minha cabeça, mas não nos martirizemos, em janeiro retomamos o caminho.

publicado às 11:34

"Adeus, estômago" é uma reportagem que já tem algum tempo mas que só agora tive tempo de ver. Estou a aproveitar que tenho passado alguns dias em casa para recuperar coisas que me aconselharam e a que, por alguma razão, ainda não tinha dado atenção. Como sabem, muitas vezes o jornalismo que fazemos desilude-me e entristece-me muito. Por isso, é uma grande alegria poder ler, ver e ouvir trabalhos tão bons. Dá-me alguma esperança. Deixo aqui alguns links de coisas de que gostei, mas sei que há muitos outros trabalhos por aí que valem a pena, sobretudo no que toca a podcasts, vou tentar pôr-me a par.

As entrevistas d'"A Beleza das Pequenas Coisas", do Bernardo Mendonça, são, geralmente, um prazer para os ouvidos. Esta, ao André Barata, é só um exemplo. 

"Colonos em Angola e Moçambique. Retornados em Portugal", um trabalho muito profundo sobre o colonialismo português, o seu racismo intrínseco e o regresso dos retornados. Feito pela minha querida Joana Gorjão Henriques, no Público.

"Mitra, o “depósito” de Lisboa onde o Estado Novo fechava os indesejáveis": uma reportagem muito boa sobre o asilo para mendigos criado em 1933. No Expresso. Vejam também o vídeo. Tinha apenas uma vaga ideia sobre o que era a Mitra e é muito impressionante.

As entrevistas a Nick Cave valem sempre a pena. Já tinha visto esta, mas a que a nossa Lia Pereira fez, no Expresso, também está muito boa. Claro que ele diz coisas muito profundas sobre a perda e o luto, mas também tem palavras muito esperançosas e um olhar bastante tranquilo sobre a vida. Vejam, por exemplo, o que diz sobre o disco novo:

"O “Wild God” é sobre algo em que acredito piamente: que temos de permanecer atentos e conscientes da alegria no presente, do riso no presente, em vez de nos agitarmos neuroticamente a pensar naquilo que as coisas deveriam ou poderiam ser. A um nível mais amplo, penso que o grande problema da socie­dade neste momento é o facto de não entendermos que há muito para amar neste mundo. Tudo o que nos dizem e que sentimos é que o mundo é um sítio para odiar, para desprezar, e que nós, seres humanos, não somos capazes de fazer nada de bom, nada de valor, que só estragamos coisas e magoamos e oprimimos pes­soas. Talvez em parte seja verdade, mas eu sinto que temos de estar atentos ao facto de o mundo e os seus seres poderem ser extraordinariamente belos." 

publicado às 14:35

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Há sorrisos que dizem mais do que muitas palavras. Sou feliz a trabalhar (mas só às vezes). 

Há um novo episódio do podcast da Arte em Rede para ouvirem AQUI. Ainda não ultrapassei a estranheza de ouvir a minha voz, mas já estou mais apaziguada com isto de fazer jornalismo na primeira pessoa. 

A fotografia é do Pedro Jafuno.

publicado às 19:54

Abril já acabou e não se fez só de gritos revolucionários.

Deu para ir ver os desenhos fantásticos do João Abel Manta.

Deu para ver o Guião para um país possível, da Sara Barros Leitão. Para rir e para pensar e para nos emocionarmos um pouco. Os actores são óptimos. Gostei mesmo muito.

Também fui ver a Luta Armada, dos Hotel Europa, sobre os movimentos armados antes e depois do 25 de Abril. Foi bom, que até foi, mas nada do outro mundo, e o melhor de tudo nesse dia foi ficar deitada na relva, de pés descalços, a ouvir música e a conversar sobre tudo e sobre nada com a minha amiga.

Voltei a cantar com a Garota Não, na inauguração do museu de Peniche. Apanhámos chuva e vai-se a ver nem conseguimos visitar o museu, mas o que ali conversámos em frente de um pão com sardinhas e de um prato de amêijoas valeu por tudo. Além da Garota, claro, que vale sempre a pena.

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Foi também um mês para "sair de pé" por duas vezes:

A propósito do espectáculo Na medida do impossível, do Tiago Rodrigues, fui moderar uma conversa na Culturgest com o João Santos, da Médicos Sem Fronteiras, e a fantástica Rita Costa, enfermeira que já esteve no Afeganistão e na Faixa de Gaza e nos falou de todo o amor que tem por este trabalho. Fico sempre nervosa quando tenho que falar em público, mas acho que até correu bem  (e se algum dia tiverem oportunidade de ver a peça, aproveitem, que é mesmo muito boa).

E, por falar em nervos, estreei-me a gravar voz, neste caso para uma reportagem sonora (aka podcast) que fiz para a Arte em Rede. Não tenho palavras para agradecer a confiança que o Bruno tem em mim (e a paciência enorme para me explicar as coisas que eu não sei). Fazer algo pela primeira vez é sempre um desafio, pior ainda quando se tem a auto-estima de uma formiga, como eu. Mas uma pessoa não gastou uma fortuna na terapia para depois ficar a tremer de medo e recusar uma oportunidade destas. O resultado já pode ser ouvido AQUI e, apesar de ainda ser muito estranho ouvir a minha voz, na verdade até me diverti a fazer isto. Agora, é "só" fazer cada vez melhor.

publicado às 19:01

Estávamos mesmo a precisar disto. Desde 10 de março que estávamos a precisar disto. De sentirmos que somos muitos, que estamos aqui e estamos juntos nesta luta. De dizermos: não esquecemos. De dizermos: não passarão. Não tem a ver com ser de esquerda ou ser de direita, tem a ver com defender a democracia, a liberdade, os direitos de todos. O que aconteceu ontem foi bonito e emocionante. Uma Avenida cheia como nunca tinha visto. Milhares de pessoas, quantas seriam?, tão diferentes. Tão coloridas. Tão felizes. Tão determinadas. Cantámos e abraçámo-nos e gritámos juntas: fascismo nunca mais.

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A luta continua.

Sei que não é suficiente, mas, para já, contribuo como posso, ou seja, escrevendo: 

  • Um museu  que conta a história do "Grândola, Vila Morena"
  • Uma conversa com o músico Francisco Fanhais
  • Um olhar de esperança sobre o presente: o poder ainda está na rua, se quisermos
  • Uma conversa (que, para mim, foi extraordinária) com Domingos Abrantes, comunista e resistente anti-fascista, a propósito do novo Museu Nacional Resistência e Liberdade

 

Trabalhei muito, muitos dias seguidos, muitas horas para além da hora. E depois passei muitas horas de pé na noite de 24 e no dia 25. A celebrar. Hoje sinto-me como se tivesse sido atropelada por um camião. Mas valeu a pena. Afinal, não é todos os dias que podemos celebrar os 50 anos da nossa democracia, não é?

publicado às 22:36

"Estás bem?", uma pergunta tão simples, talvez a pergunta que mais vezes fazemos uns aos outros, "Está tudo bem?". É, na maior parte das vezes, uma pergunta inconsequente, ninguém quer saber realmente se estamos bem, e por isso respondemos de forma mecânica, "Tudo", e seguimos com a conversa sobre o tempo, sobre o trabalho, sobre os filhos, sobre as eleições, o que for. Mas o que responderíamos se quiséssemos ser verdadeiramente honestos? Estou bem? Mesmo que não esteja "tudo bem", que nunca está tudo bem, estamos bem? Estou bem, digo a mim mesma. Se reflectir um pouco, se pesar os pratos da balança, se der o devido valor às coisas que me irritam e entristecem (valem assim tanto?), se quiser ser verdadeira, tenho que dizê-lo: estou bem. A vida não é a preto e branco. Os dias muito bons sucedem-se a dias muito maus que se sucedem a dias mais ou menos. No mesmo dia, temos coisas óptimas a acontecerem-nos e coisas que nos deprimem. Não é assim com todas as pessoas? Estou bem.

*

Fiquei muito deprimida com os resultados das eleições. Ainda estou deprimida com isto tudo. Há muitas coisas na minha vida de todos os dias que não são perfeitas, mas tudo fica pior porque tenho que ver televisão e acompanhar as notícias relacionadas com a extrema-direita. Ouvir AV a toda a hora, as suas mentiras, os seus joguinhos, aquela retórica populista, a sua extrema falta de educação e falta de respeito por nós todos tem sido um grande foco de tristeza e desesperança. Por outro lado, existe também uma vontade de agir e reagir, partilhada por algumas pessoas à minha volta. Não sabemos ainda como, quando, onde, mas sinto que temos a responsabilidade de fazer alguma coisa.

*

Já quase ninguém escreve nos blogues. Eu própria quase não escrevo no blogue. Não temos tempo, não temos paciência, assim como assim ninguém lê, pois não? Somos cada vez mais descartáveis. O Facebook está praticamente morto. O Twitter é um ninho de víboras, pessoas desejosas de dizerem coisas, seja o que for, desejosas de provocar reacções. No Twitter sou apenas observadora, mas o Instagram transformou-se no meu álbum de fotografias e memórias. O Instagram, como bem escreveu a Gabriela (que também se lamenta por escrever cada vez menos, e é uma pena), é aquela "rede social onde os mais novos só deixam 'histórias' efémeras e os mais velhos registos vários para a posteridade. É muito isto que nos diferencia, parece-me. Instagrams que vivem de marcas que permanecem e os outros, que têm zero publicações, mas inúmeras histórias que as 24 horas apagam". Eu sou da permanência ("é urgente permanecer", diz o poema de Eugénio de Andrade). A mim faz-me falta a escrita. Faz-me falta escrever-me. Não me tenho sentido suficientemente livre para fazê-lo, não sei como explicar-vos. Tenho de pensar melhor nisto.

*

Emocionei-me muito a ver Um Mini Museu Vivo de Memórias do Portugal Recente, um espectáculo do Teatro do Vestido, que conta um pouco da história Portugal dos anos da ditadura e da democracia. É mesmo preciso não esquecer.

*

Os jornalistas fizeram greve. Não serviu para nada, não vamos ser aumentados nem vamos ter melhores condições de trabalho, os despedimentos vão continuar, os órgãos de comunicação continuam com problemas financeiros, e, no entanto, foi importante que nos juntássemos todos, que nos olhássemos, que os outros olhassem para nós, que disséssemos em voz alta que temos mesmo que fazer alguma coisa por nós, para mudar isto, que não podemos continuar a encolher os ombros. Foi um dia muito bonito.

*

Fomos ver o Sérgio Godinho ao Coliseu. Foi tão bom, tão bom. Foi tão bom poder ouvir aquelas canções acompanhada daquelas pessoas (as pessoas são sempre o mais importante). Ouvir outra vez A Garota Não. Gritar pela paz, o pão e a habitação. Cantar o Zeca e o Zé Mário. Ter um "brilhozinho nos olhos" e acreditar que, apesar de tudo, este poderia ser o "primeiro dia do resto da nossa vida".

*

Também fui ver a Patti Smith com os Soundwalk Collective ao CBB. Que maravilha. O espectáculo chama-se Correspondences e baseia-se na poesia de Patti Smith, a partir do trabalho de outros artistas, aquela voz incrível num ambiente composto por vídeos e sons, levando-nos numa reflexão sobre o mundo em que vivemos, a destruição da natureza, os desastres nucleares ou questões mais humanas da nossas existência. Foi uma experiência bastante intensa que terminou com um momento de libertação, o público todo de pé a cantar People Have The Power ("The power to dream, to rule/ To wrestle the world from fools").

*

Ainda não tinha ido à Casa Fernando Pessoa depois da remodelação. Vale muito a pena. A exposição está muito bonita, com partes mais informativas e outras mais poéticas. Numa das salas há uma montagem de espelhos - porque cada um de nós é muitos, porque cada pessoa é diferente dependendo do ponto de vista. Aí, conseguimos ver-nos de costas. Completamente. Não sei se alguma vez me tinha visto de costas, como se fosse outra pessoa. Foi bastante estranho. Ficámos ali algum tempo. Há algo de quase transcendental nesta experiência.

*

"I know not what tomorrow will bring" - foi esta a última frase escrita por Fernando Pessoa. Não sabemos o que o amanhã nos traz. Tenho feito um esforço para tentar viver o presente sem pensar no futuro. No meu futuro, no futuro dos meus filhos, no futuro em geral. Talvez seja por estar a chegar aos 50, não sei. Não é tanto um "seize the day" no sentido de fazer tudo e devorar o mundo como se não houvesse amanhã. Não é isso. É mais um ser feliz agora, por inteiro, sem alimentar expectativas para amanhã, tentando não me angustiar. Se me conhecessem saberiam que é um desafio e tanto. É quase como suspender o pensamento. Não vou dizer que é fácil, mas até agora tem sido possível e tem sido bom. Talvez o amanhã nos traga beijos e passeios de mão dada à beira-mar. Talvez o amanhã me traga uma tarde numa esplanada, sozinha, com um livro. Seja como for, o importante é estar em paz.

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publicado às 20:18

Quem ganhou? O jornalismo e o comentariado políticos estão reduzidos a isto: quem ganhou o debate? quem ganha nas sondagens (bem ou mal feitas)? quem ganha nas redes? Veja ao minuto, agora, instantaneamente. Não vale a pena pensar muito, nós dizemos-lhe já. E quem ganha nem sequer é quem diz mais verdades ou quem tem propostas mais exequíveis, é quem conseguiu gritar mais alto, calar o adversário, ser mais fanfarrão, dizer a frase mais orelhuda. Quem ganha é quem consegue mais aplausos no Twitter, esse mundinho à parte, onde os jornalistas e comentadores vivem e se degladiam, mas que representa muito pouco do que é o país real. 

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É verdade que já não tinha grandes expectativas sobre o jornalismo que fazemos no nosso dia-a-dia, mas nunca julguei que pudéssemos descer tão baixo como está a acontecer nesta campanha eleitoral. Isto não quer dizer que não haja trabalhos bons, que também os há, atenção. Mas ficam geralmente ofuscados por este festival de comentários e avaliações à la minuta. E é uma pena. Sinto mesmo que não estamos a prestar um bom serviço à democracia - nem aos nossos leitores/ouvintes/espectadores. Mas sinto-me impotente. Limito-me a tentar não contribuir para este barulho.

Infelizmente isto não acontece só em Portugal, felizmente já há muita gente a pensar sobre isto e até já há algumas pessoas a tentar fazer diferente. Através do Jay Rosen , autor do PressThink (só o nome já é bom, juntar imprensa e pensamento é sempre um bom princípio), encontrei este texto, que me parece resumir bem algumas das preocupações que - como descobri recentemente - não são só minhas:

"(...) Horse race political journalism is the shallow end of the craft. It’s easy to do, carries no burden in terms of input or consequence and can spawn a day or so of equally lazy follow ups. It is usually based on polling. A poll of inconsequential quality is used to measure the possible outcome of a looming political contest – usually on the fundamental metrics of voting intention and leadership approval/disapproval. (...) It is always worth remembering and repeating that opinion polling is no more than what it is – the sampling of opinion at a moment in time on a single issue or confined basket of issues. (...) Other factors counting against horse race polling are that it contributes to the prevalent and increasing distrust in politicians – if all the news is focused on the competitive nature of contests and doesn’t delve into the issues voters actually talk about, people will believe politicians don’t care about things like health and education. (...) Pages of stories on horse race aspects of elections and little if any examination of what is at stake in any contest means the voters are ill-informed and slip into not caring. It’s a self perpetuating and self fulfilling problem at once. The ill informed nature of so much political reporting – fed by the horse race obsession – creates an electorate which really doesn’t care because they do not believe anything has any meaning or any election outcome has any consequence. (...) The fundamental criticism of horse race political journalism is the tendency to give emphasis to colour and movement, to drama and shock, over anything or substance or consequence. Substance takes a back seat. (...)".

publicado às 22:31

Tive mais uma vez o privilégio de colaborar com o "Projeto Invisível", a revista sonora da Culturgest. Desta vez, a propósito do espectáculo Na Medida do Impossível, de Tiago Rodrigues, fui à procura de pessoas que trabalham em organizações humanitárias em cenários de emergência, como guerras, catástrofes naturais, epidemias, surtos migratórios. Tive conversas muito interessantes com a enfermeira Catarina e o responsável de logística Luís, da Médico Sem Fronteiras, e com a psicóloga Inês, do Comité Internacional da Cruz Vermelha, que me falaram das dificuldades e dos desafios do seu trabalho e das estratégias a que recorrem para cuidarem de si - e assim poderem cuidar dos outros.

Podem ouvir a aqui reportagem "A Força de Quem Cuida" ou, se quiserem, todo o episódio do "Projeto Invisível".

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Fotografia de um campo de refugiados em Lesbos, na Grécia, em 2019, de autoria de Panagiotis Balaskas - AP Photos

publicado às 17:02


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