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13
Mar24

A luta continua

 

 

"Viemos com o peso do passado e da sementeEsperar tantos anos, torna tudo mais urgenteE a sede de uma espera só se estanca na torrenteE a sede de uma espera só se estanca na torrente
 
Vivemos tantos anos a falar pela caladaSó se pode querer tudo quando não se teve nadaSó quer a vida cheia quem teve a vida paradaSó quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sérioQuando houver
A paz, o pão, habitaçãoSaúde, educaçãoSó há liberdade a sério quando houverLiberdade de mudar e decidirQuando pertencer ao povo o que o povo produzirE quando pertencer ao povo o que o povo produzir"
 
Liberdade, Sérgio Godinho

publicado às 10:29

 

"(...) So you're scared and you're thinkingThat maybe we ain't that young anymoreShow a little faith, there's magic in the nightYou ain't a beauty, but hey, you're alright (...) 

Well now, I'm no hero, that's understoodAll the redemption I can offer, girl, is beneath this dirty hoodWith a chance to make it good somehowHey, what else can we do now? 

Except roll down the windowAnd let the wind blow back your hairWell, the night's busting openThese two lanes will take us anywhereWe got one last chance to make it realTo trade in these wings on some wheelsClimb in back, heaven's waiting down on the tracks

Oh, come take my handWe're riding out tonight to case the promised land (...)"

Bruce Springsteen, Thunder Road

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publicado às 12:59

Não sou a maior fã dos Pogues nem tinha nenhuma memória especial de Shane MacGowan (1957-2023), mas, caramba, que me emocionei a ver os vídeos do seu funeral. 

Glen Hansard, Lisa O'Neill e The Pogues interpretam "Fairytale of New York":

publicado às 10:04

Perder a cabeça de vez em quando, só para confirmarmos que estamos vivos, que ainda temos capacidade de sentir borboletas na barriga e arrepios na pele e o coração a querer saltar do peito e esses clichés todos, quem disse que os clichés são maus?, lembrarmo-nos que somos humanos, para além da vidinha de todos os dias, do trabalho que nos mói e das contas para pagar, deixarmo-nos levar pelos impulsos, pela vontade, pelo desejo, não pensar, só por dois dias, esquecer o mundo lá fora, as guerras, o trânsito, os compromissos, agora não, não quero saber, agora quero só sentir esta urgência. Deixa-me só ser feliz por um bocadinho. Depois, voltamos a pousar os pés no chão. E a vida segue. Como se não tivesse sido nada. Mas tu sabes que foi tanto.

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publicado às 09:59

Um filme

Só há pouco vi o multipremiado Alma Viva, o filme de Cristèle Alves Meira. Não sei porque adiei tanto. Talvez porque tenho uma relação difícil com o cinema português. Ou porque na corrida dos Óscares estava a torcer pelo Great Yarmouth. Mas lá acabei por me resignar. E foi uma muito agradável surpresa, apesar de não ser grande fã do tema dos espíritos e do diabo. Na verdade este é mais um filme sobre um Portugal que às vezes, aqui em Lisboa, nos esquecemos que existe. O interior. Sobre as relações que se estabelecem numa pequena comunidade. Sobre emigração e raízes. Férias de verão por entre os montes, bailaricos e algodão doce, rezas e superstições, os badalos das cabras como música de fundo, os rituais da morte. Também é sobre a família - e os gritos e as desavenças e os abraços e tudo isso que faz as famílias. E sobre as mulheres. Todas bruxas, mesmo as que não. De sublinhar as excelentes interpretações de Lua Michel (a "garota", Salomé, que na vida real é filha da realizadora) e Ana Padrão. 

Um livro

Mulher, Vida, Liberdade é um pequeno tesouro. Organizado pela Marjane Satrapi, artista iraniana que nos deu Persépolis, mas com a participação de vários ilustradores, este livro é tanto uma homenagem à luta das mulheres do Irão como uma aula de história ou um documentário sobre um país que vive num regime extremista do ponto de vista religioso e ditatorial do ponto de vista político. Satrapi acredita que a revolta pode sair vitoriosa. Eu não tenho tanta certeza. Podem saber mais neste artigo.

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Uma boa notícia

No próximo ano celebram-se os 50 anos do 25 de Abril e, apesar de temer pelo resultado das eleições de março, estou pronta para, aconteça o que acontecer, descer a avenida da Liberdade e emocionar-me várias vezes a cantar o Grândola, Vila Morena. A propósito, publiquei hoje esta notícia sobre a classificação como Património Nacional de dois registos desta canção de Zeca Afonso: no I Encontro da Canção Portuguesa, em 29 de março de 1974, e no programa "Limite", da Rádio Renascença, na madrugada de 25 de Abril, onde serviu como senha para dar início às movimentações dos militares. 

publicado às 19:28

24
Set23

Esclarecimento

Não, não são críticas.

A crítica é um trabalho, sério e exigente. Tenho um respeito enorme pelos críticos - de cinema, de literatura, de arte, de performance, de tudo. Tenho os meus críticos preferidos e também tenho aqueles com quem sei que raramente concordo. Com todos eles aprendo alguma coisa. Sobre as obras, sobre a vida, sobre a escrita. Aprendo a ser melhor espectadora (ou leitora ou o que seja), porque não só com mais informação mas também com mais dúvidas, mais perguntas, mais pontos de vista a acrescentar aos meus. 

Não, não são críticas. O que escrevo aqui são impressões. Lembretes para um dia quando quiser falar de um filme, que a minha cabeça é uma desgraça e eu preciso destes auxiliares de memória para me lembrar do que vi e do que li e do que ouvi e até do que vivi e do que senti. É para isto, essencialmente, que serve este blog. Para coleccionar as minhas memórias. (desculpem, isto dito assim é um bocadinho egoísta, mas é a verdade. se vocês soubessem a quantidade de vezes que venho aqui confirmar datas e acontecimentos e procurar informações para completar conversas sobre tudo e mais alguma coisa.) E depois, também, claro, porque é um blog público, para partilhar estas minhas impressões com quem as quiser aproveitar. Sem qualquer pretensão. Só assim como quem conversa com os amigos sobre os filmes que viu. 

Mas não são críticas. Nada de confusões.

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O crítico gastronómico Anton Ego, do filme Ratatouille

publicado às 22:08

23
Set23

Outono

Sou só eu que tenho mixed feelings sobre o outono? É verdade que acabam as férias da escola e o calor e os dias grandes e de repente não sabemos o que havemos de vestir e começa a chover, nada disso é bom. Mas, por outro lado, há um certo conforto nisto de sentir o ar fresco na cara quando saímos de casa cedo, de voltar a calçar meias para dormir e de ter vontade de tricotar cachecóis (porque na verdade não sei tricotar mais nada).

Um destes dias, estive a rever o 500 Days of Summer, um filmezinho super-querido com o Joseph Gordon-Levitt e a Zooey Deschanel, sobre paixões e o quão difícil e aleatório é isto tudo. Sim, é um filme juvenil e naif, mas todos temos direito a ter uns momentos assim, ok?

Além disso, é um filme que nos faz gostar do outono e tem uma banda sonora bastante aceitável. Ora ouçam:

publicado às 14:05

No camarote dançámos, cantámos, ficámos só muito atentos a ver e ouvir Caetano Veloso, emocionámo-nos. A certa altura pensei: que privilégio este, estar aqui, rodeada de amigos, vendo e ouvindo mais uma vez um dos meus artistas preferidos, que privilégio poder ouvir esta voz, desfrutar desta música. Não sou nada da moda do "estar grata", pelo contrário, queixo-me e reclamo muito, passo demasiado tempo zangada com a vida, sempre a querer mais. Mas há momentos assim, tão bons, que é impossível não pensar: que privilégio. Em vez de pensar nos concertos e nos espectáculos e nas viagens e em todos os programas a que não me consigo juntar por falta de tempo, de dinheiro ou de energia, prefiro pensar em todas as coisas boas que me acontecem e nas pessoas amigas com quem as partilho. Tanta felicidade nas coisas pequenas que me tenho esquecido de assinalar. Este ano, por exemplo, o privilégio duplo de ver ao vivo Caetano, com 81 anos, e Chico, com 79 (não os vou comparar sequer, estou só a dizer que senti o mesmo com ambos).

Nesta entrevista, Caetano explica quase tudo sobre o seu último disco, Meu Côco.

E esta é a parte sobre uma das minhas cançõs preferidas desse disco, Não Vou deixar:

"Não vou deixar, não vouNão vou deixar você esculacharCom a nossa históriaÉ muito amor, é muita luta, é muito gozoÉ muita dor e muita glória"

publicado às 17:08

Fui só um dia, que a agenda não me permitiu mais, mas acabou por ser uma tarde gloriosa. E ouvi e li muitos relatos por aí. A segunda edição do Jardim de Verão, na Fundação Calouste Gulbenkian, programado por Dino d'Santiago, confirmou-se como um espaço de diversidade, igualdade, partilha e empatia, como infelizmente ainda há poucos nesta cidade que se diz tão diversa. Havia ali uma alegria que se sentia no ar. O que faz a diferença não é tanto a diversidade, que a essa pelo menos alguns de nós já estamos habituados, embora noutros contextos. O que faz a diferença é precisamente ver essa diversidade num espaço institucional e elitista, onde ela é tão pouco comum. Como escreveu o Vítor Belanciano: a "prova de que é possível fazer a diferença quando lugares institucionais de grande representatividade para o colectivo estão dispostos a partilhar o poder, o espaço, os sentidos e os imaginários, envolvendo de forma muito concreta quem por norma não acede a eles". É um caminho e é bom que esteja a ser feito.

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Fotografia retirada do Facebook da Fundação Calouste Gulbenkian

(Aliás, abrir parêntesis aqui para dizer que o Belanciano continua a ter um dos olhares mais atentos e instigadores sobre a cultura contemporânea - pop ou urbana ou outra - e que, polémicas à parte, é sempre um prazer lê-lo, por agora só nas redes sociais.)

publicado às 10:49

13
Jun23

Partir a telha

Andei aí uns tempos com a telha. Estou a falar no passado sem grandes certezas, mas porque sou uma pessoa optimista. Andei com a telha que é como quem diz andei aí uns tempos a achar-me a pessoa mais infeliz e injustiçada do mundo, a ver tudo negro à minha frente, como se os problemas não tivessem resolução e as dificuldades fossem inultrapassáveis. Nestas fases, quando me sinto assim, fecho-me sempre um bocadinho, o que não é propriamente uma boa estratégia. Sem me apetecer fazer nada nem falar com ninguém nem sequer pensar muito no assunto, o sentimento de solidão adensa-se. A verdade é que não podemos contar sempre com os outros. Os amigos têm as suas vidas. Têm almoços de família ao domingo. Têm companheiros com quem passam os serões. Têm filhos pequenos com quem fazem os programas que eu também fazia quando tinha filhos pequenos. Os meus amigos, na sua maioria, não conhecem esta solidão, e eu não quero estar a chateá-los com as minhas tretas. E quem vê no instagram não imagina, não é? Como poderiam saber que por trás daquelas fotografias bonitas também bate um coração? De maneiras que a telha. E porquê? Não há um motivo concreto. Há uma série de coisas que existem na minha vida e que chega ali um momento em que parece que me pesam mais, sem razão para tal. Os putos não se estão a portar pior do que antes. O trabalho não está mais insuportável. A vida não está mais difícil. Simplesmente acontece que eu estou com menos tolerância e tudo me parece pior e talvez as hormonas não ajudem. Isto não é uma depressão. São fases. Conheço-as bem. O problema é quando as fases se prolongam. Esta foi longa. 

Neste entretanto, mesmo com a telha, aconteceram coisas bonitas, há que dizê-lo.

Fui a um workshop de crochet na Retrosaria e descobri que o crochet não é para mim.

Fui ver e ouvir a Ana Lua Caiano (vale a pena descobrir).

Li o livro da Anabela. E houve momentos em que ela era eu.

Ouvi muitas músicas da Rita Lee e da Tina Turner. Não chorei, mas fizeram-me pensar nisto tudo.

Fui ao concerto do Chico Buarque. E, mesmo a ouvir mal, chorei, ao lado da Ângela.

Passei uma tarde com a Sandy e outras pessoas fixes a pensar em podcasts.

Fui ver e ouvir o Luís Miguel Cintra, tão magrinho, tão frágil, na Feira do Livro. E voltei a chorar. (um dia vou escrever sobre isto.) 

Estou a ler os livros da Annie Ernaux e a surpreender-me com a consciência que ela tem de si mesma. Com a forma despudurada como se expõe (ter vergonha do quê? sou como sou). Que lição.

Obriguei-me a estar com pessoas. E acabei por ser feliz nesses momentos. Porque estar com as nossas pessoas é bom (mesmo que eu não goste nada do festival da canção e não seja a maior fã dos santos populares). Juntar-me a um clube de poesia de gente bonita que me obriga, todos os meses, a sair da minha zona de conforto, foi uma das melhores decisões que tomei há quase um ano.

É assim que, lentamente, estou a partir a telha.

Isto é uma coisa que resulta para mim. Comprometo-me com coisas que tenho de fazer e comprometo-me com outras pessoas. Obrigo-me a planear eventos para o futuro. Por exemplo, pelo sim, pelo não, já comprei vários bilhetes para ir ver espectáculos nos próximos tempos. E garanto, assim, que num dia destes, mesmo que me apeteça muito ficar em casa, vou ter que me forçar a sair. Tal como me forcei a fazer muitas das coisas atrás descritas.

Não há receitas. Cada pessoa é uma pessoa. E não temos que estar sempre felizes e esfuziantes. Mas convém estarmos atentos. Até porque, como canta o Tom Jobim (mas o poema é de Vinicius), "tristeza não tem fim, felicidade sim".

publicado às 17:28


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