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20
Jun25

Caramelo

Quando eu era pequena, Espanha era o Rosal de La Frontera, uma terra que fica do outro lado da fronteira de Vila Verde de Ficalho, a uma hora e meia da minha terra. Nunca lá fui, mas de vez em quando alguém ia a Espanha fazer compras e voltava com embalagens enormes de gel de banho e detergentes para a casa. Isto foi antes da União Europeia, claro, ainda havia fronteiras e ir a Espanha, ainda que fosse só ali ao lado e que não fosse preciso passaporte, era uma aventura. Nesses dias, ficava à espera que o carro da dona Fátinha estacionasse à nossa porta, em pulgas para saber que coisas maravilhosas a minha avó teria comprado. Vinha o porta-bagagens cheio. De lá me trouxeram bonecas várias, tabletes gigantes de chocolates com avelãs, pacotes de rebuçados. Lembro-me particularmente de uns rebuçados muito grandes, de caramelo e pinhão, que quase não cabiam na boca e se pegavam ao dentes, dificílimos de comer. Não se vendiam em mais lado nenhum. Nesses tempos, para mim, ir a Espanha era sinónimo de ir comprar caramelos. Ainda hoje, se penso em caramelos é este o sabor que me vem à boca.

Não garanto que fossem desta marca, mas eram mais ou menos assim:

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Porque é sexta-feira, é dia de largo. Eu tenho andado um pouco desleixada, mas esta semana aqui estou, a roer caramelos com estas companheiras:

publicado às 09:32

08
Jun25

(sem) Terra

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1
Fugi da minha terra assim que pude. Fugi sem olhar para trás. Estava a sufocar ali. Lembro-me que a partir de determinada altura deixei sequer de tentar discutir com os meus pais, limitava-me a contar os dias que faltavam para sair dali, para poder fazer o que me apetecesse, sem me sentir olhada e controlada por toda a gente, sem os dedos apontadores, sem recriminações moralistas. Fugi da minha terra no Alentejo para deixar de ser a filha do senhor professor e poder ser, finalmente, eu. Mesmo que, vai-se a ver, afinal eu não fosse muito diferente em Lisboa do que era ali. Mas isso era irrelevante. A verdadeira mudança aconteceu dentro de mim, na liberdade que tinha para escolher e para ser o que eu quisesse.

2
Não gosto assim tanto da minha terra, não a acho particularmente bonita, não deixei lá grandes amigos, não sinto saudades de nada. Não tenho vontade de voltar para lá. Gostaria muito de ter uma casa no campo, mas não ali. Durante a faculdade, quando os meus colegas iam passar o fim-de-semana à terra, eu dizia que ia a casa. Não gostava da minha terra, mas gostava da minha casa. Depois, quando os miúdos eram pequenos e passávamos grandes temporadas no Alentejo, foi como se fizesse as tréguas com aquela terra. Mas foi sol de pouca dura. Na verdade, não era a terra, era outra vez a casa. A casa dos avós. A casa da tia. Ainda hoje, quando lá vou, ando pouco nas ruas, só fico nestas casas que, não o sendo, são também a minha casa.

3
Não gosto assim tanto de Lisboa, não a acho particularmente bonita, nem limpa, nem agradável. Pelo contrário, cada vez gosto menos. Sinto-me desconfortável na maior parte dos sítios. Há demasiadas pessoas, demasiado trânsito, demasiado lixo, demasiada degradação. De Lisboa gosto sobretudo das pessoas e das oportunidades. As pessoas que me aquecem a alma. As oportunidades para trabalhar e para fazer coisas que gosto de fazer. Moro em Lisboa há mais anos do que aqueles que morei na minha terra, nunca morei noutro sítio, nem sequer temporariamente. E no entanto não adoro morar em Lisboa. Tenho aqui a minha casa, mas Lisboa não é a minha terra.

4
Há pessoas que me perguntam de onde sou mas o que querem saber é onde moro. Ainda assim, não consigo evitá-lo, respondo sempre que sou do Alentejo. Aconteça o que acontecer, é dali que sou. Sou daquela paisagem, daquele sotaque, daquelas vilas brancas, daquela determinada maneira de ser e de viver, que é tão diferente do Norte. Sinto-me em casa no cante alentejano, nas açordas e nas migas, no calor abrasador, na frestas das janelas abertas para deixar entrar o fresco do fim do dia. Sinto-me em casa naquelas terras áridas, nas ruas vazias, no silêncio, naquele sentimento de abandono. 

5
Acontece-me frequentemente. Se o meu pai não atender o telefomóvel, procuro na lista onde diz "casa" e ligo. Só me apercebo do erro quando ouço a voz de algum dos meus filhos do outro lado. Claro que a "casa" da lista telefónica é a minha casa, em Lisboa, e não a casa dos meus pais, no Alentejo, cujo número está devidamente guardado como "casa pais". Mas, algures no meu subconsciente, a minha casa continua a ser ali, na casa dos meus pais, ainda que, na verdade (e isto é o mais impressionante), eu nunca tenha vivido "naquela" que é agora a casa do meu pai, mas noutra, na mesma rua. Esta minha casa-terra não existe. É um lugar puramente afectivo. 

*

Esta semana, no largo, a proposta era escrever sobre "terra". É um conceito estranho para mim. Ainda assim, dei o meu melhor. Na foto lá em cima sou eu. A foto foi tirada pelo meu pai, claro.

Encontram outras "terras" por aqui:

publicado às 10:54

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São mulheres com um sotaque (lindo) do Alentejo. Vejo ali traços das minhas avós e bocados das suas vidas, e só isso já seria suficiente para me comover. São mulheres que nos contam como era a sua vida antes do 25 e Abril de 1974. Umas nunca foram à escola, outras estudaram até à terceira ou quarta classe, começaram a trabalhar com 11, 12, 15 anos, no campo - na apanha da azeitona, na monda, na ceifa - ou então a servir em casa de alguém. Eram crianças ainda e já tomavam conta dos irmãos mais pequenos ou dos filhos das senhoras, faziam a lida da casa, cozinhavam para a família. Casaram virgens e sem saber nada sobre sexo. Serviram os maridos como serviram os patrões: com respeito e obediência. Foram criadas em suas próprias casas, sem pagamento nem reconhecimento. Poucas vezes se questionaram se eram felizes, se poderia ser diferente, se mereciam melhor. Resignaram-se. 

Os vídeos do projecto Antigamente é que era bom estão na página de instagram aifi.lhas e são ao mesmo tempo tristes e belos, mas são, sobretudo, um alerta para que não esqueçamos como era e para não acreditarmos em teorias revisionistas. Muita coisa mudou nestes 51 anos e muita coisa mudou para melhor. Sobretudo para as mulheres.

[Existe um outro projecto muito bonito, o podcast Memória Futura, da Laura Falésia, em que ela entrevista mulheres mais velhas, cada uma com uma história incrível. Fica a dica.]

*

Hoje é dia do trabalhador. E da trabalhadora. A foto lá em cima foi tirada DAQUI. Aproveito para aconselhar que procurem as fotografias que a Maria Lamas tirou às mulheres do nosso país e para lembrar o que escrevi num dia particularmente irritada.  

*

Queria aproveitar também para falar do meu trabalho, mas, precisamente, estes têm sido dias muito exigentes, e não estou a conseguir escrever o que gostaria de escrever. Mas fica prometido. Ser feliz no trabalho que escolhemos (ainda que não sejamos felizes todos os dias nem todas as semanas, ainda que por vezes duvidemos de tudo, ainda que muitos dias sintamos que não vale a pena e só nos apeteça desistir) é um privilégio enorme. 

*

A propósito, já viram o On Falling?

*

No nosso largo só se trabalha por gosto:

publicado às 19:23

04
Abr25

Planta

Os meus colegas mais novos acham que eu sou uma pessoa estranha porque tenho sempre papel e caneta. Quando conversamos e lhes conto que quando comecei a trabalhar não tinha internet, olham-me como se eu fosse um bicho raro. Como é que sabiam o que estava a acontecer?, perguntam-me. Na maior parte das vezes, se não fosse uma coisa mesmo muito importante, não sabíamos. Só mais tarde. Horas mais tarde, dias mais tarde. Mas para nós era normal. Eles não entendem. Tenho que lembrá-los que cresci sem telemóvel. Mais ainda: a minha primeira televisão era a preto e branco e só tinha um canal. E, depois, já era a cores mas só tinha dois canais. Não tinha comando. Tínhamos que levantar-nos do sofá para mudar de canal. Ah ah ah ah ah ah. Sou uma pessoa que venho de um tempo distante, para eles é como se fosse da pré-história. É impossível explicar-lhes como era viver num mundo onde não se podia fazer pausa nem voltar atrás na box para ver o que perdemos. Onde não controlávamos o que víamos, éramos meros receptores. As notícias às 20:00, meia hora depois, a novela brasileira. Os desenhos-animados logo de manhã ou à hora do lanche. A teleculinária antes do almoço. Víamos muita coisa que até não nos interessava assim tanto, mas era o que estava a dar. Ao fim de semana havia os documentários dos animais, o basquetebol da NBA, a fórmula 1. Os programas do Júlio Isidro. O Clube Amigos Disney. Os filmes nas matinés. As séries de ficção científica. E claro que víamos todos os reclames (há quanto tempo não dizia esta palavra?). Naquele tempo, a pasta medicinal Couto andava na boca de toda a gente. Escrevíamos com Bic laranja para escrita fina e Bic Cristal para escrita normal. No natal vinha o coelhinho do chocolate Regina e as Bombokas - “só há uma, é para mim!”. No verão era um Cornetto para mim, um Cornetto para ti, no inverno bebíamos Brasa, a bebida que aquece o coração. Dizíamos bom dia com Mokambo e íamos dormir com o Vitinho. Tenho a cabeça cheia de frases dos anúncios. Posso não me lembrar do que preciso comprar no supermercado, mas, bastam pequenas coisas para, do nada, desatar a cantar, sem me enganar, os jingles da minha infância. Como “É Boca Doce é bom, é bom, é, diz o avô e diz o bebééééé” Ou “Um Bongo, um Bongo, o bom sabor da selva, em cada pacotinho uma festa de oito frutos”. Ou “Aquela máquina!”. Ou “Pa-pa a pa-pa, pa-pa a pa-pa, Cérelac”.

Por isso, quanto a vocês não sei, mas a mim se me falam em planta, só consigo pensar na margarina. Nunca - nunca! - comi pão com Planta, mas isso não fará de mim menos “lambona”.

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Outras plantas que crescem neste largo:

publicado às 10:19

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Quando olho para trás e procuro os momentos-chaves, os momentos transformadores na minha vida, penso sempre na vinda para Lisboa e para a faculdade, depois a entrada no jornalismo, depois os filhos, depois o divórcio e, finalmente, a pandemia. Há cinco anos ficámos em casa. Soube logo que ia ser uma experiência marcante, mas não poderia imaginar quanto. Aconteceu tanta coisa. Andámos dois anos às voltas com as máscaras e o álcool-gel. Foi há tão pouco tempo e, no entanto, parece que foi noutra vida.

publicado às 15:51

28
Fev25

Carimbo

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A primeira foi uma borboleta. Já sei que é uma piroseira, mas eu sou um bocadinho pirosa, por isso não me aborreçam. Hoje faria diferente, faria uma borboleta à mesma, mas de outra maneira, mais pequena, mais esvoaçante. Mas hoje sou outra pessoa e aquela borboleta, desenhada sem grande graça, é daquela pessoa que se sentiu a afundar num dia de maio e teve que se reinventar com o que tinha à mão. As pessoas complicam muito esta coisa das tatuagens. Porque “fica para a vida toda, tens de pensar bem”, disseram-me. Ora, ora. Os amores também eram para a vida toda e depois afinal não foram, mas mesmo quando terminam deixam-nos sempre marcas. É isso viver. Acumular marcas no corpo, quer sejam visíveis ou não. Rugas, cicatrizes, sinais, tatuagens, culpas, amores, desilusões, memórias, felicidades. Faz tudo parte. Não dá nunca para apagar aquilo que vivemos, por muito que queiramos, por mais que se lave e se esfregue o corpo com força e com raiva como a Fernanda Torres no filme Ainda Estou Aqui. O meu corpo conta a minha história. Cada carimbo que faço na pele é um capítulo dessa história. A borboleta do divórcio. Os corações que são os meus filhos (ai, que pirosa, outra vez). A liberdade dos 50 (meus e da Revolução), porque ser livre, ser verdadeiramente livre, é das coisas mais preciosas e mais difíceis, e é aquilo que procuro todos dias (falhando sempre, mas cada vez melhor, como dizia o Beckett). Quero fazer mais uma. Já decidi o que será, mas ainda não quando será. A seu tempo. Com alegria.

Quando for velha e enrugada, por entre as peles flácidas e as estrias, as minhas tatuagens dirão de mim tudo o que há para dizer, mesmo que eu já não o consiga lembrar.

Tatuagem, Chico Buarque

*

As minhas companheiras do largo também hão de andar a carimbar por aí:

publicado às 09:54

07
Fev25

Espelho meu

Em cima do móvel, no patamar a meio da escada, estavam as molduras com as fotografias dos casamentos das minhas avós. Sempre que precisava de um cachecol ou uma luvas, lá estavam elas, a preto e branco, a posar felizes com os seus vestidos de noiva. Intrigavam-me aquelas fotos, das poucas que tínhamos das minhas avós antes de serem minhas avós. Como é que a avó Celeste, que ali estava com cabelos negros e compridos e uma postura tão direita, de cintura apertada, se tinha transformado na velhota baixinha e redonda, de cabelo cinzento e ralo, que me descascava a fruta enquanto víamos a novela da noite? Aquelas fotos provavam que elas já tinham sido novas. E lembravam-me que, como elas, eu também seria velha. Eu, que herdei as ancas largas da minha mãe, que herdei os dedos esguios e os joanetes da avó Helena, e, dizem, as covinhas na cara e o bom feitio da avó Celeste, serei uma velha que só vagamente dará ares à jovem que fui. Mesmo que as pessoas que nos encontram, depois de anos de ausência, insistam em dizer “estás na mesma”. Não estamos. E isso é bom. Ainda que nos custe um bocadinho sempre que nos olhamos ao espelho.

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Não tenho as fotos dos casamentos, mas volto muitas vezes a esta foto. Aqui estamos todas. Eu e os meus espelhos. 

 

"Espelho meu" é o segundo texto do nosso colectivo ainda sem casa, mas nem por isso menos activo. O primeiro texto foi sobre "Espalhar-se ao comprido".  

Outros espelhos aqui:

publicado às 08:28

Estive com a Adília Lopes uma única vez, há mais de vinte anos, num ensaio do espectáculo A Birra da Viva, de Lúcia Sigalho. Queria lembrar-me melhor desse espectáculo, desse momento. Tenho tão boas memórias das noites passadas no Armazém do Ferro. A Lúcia Sigalho e a Mónica Calle foram uma revolução na minha vida. Eu era ainda uma miúda, mal tinha começado a pensar nestas coisas, e elas a fazerem espectáculos sobre isto de ser mulher, a dizerem-me que o importante é sermos quem realmente somos, assumirmos os nossos desejos e deitarmos fora a culpa, elas a mostrarem-me o caminho. Devo-lhes tanto. Foi por causa da Lúcia e desse espectáculo sobre mulheres e mães e sobre corpos que dão vida e morte que fiquei com vontade de ler a Adília. Foi depois de a ver ali, de ouvir a maneira contida, desassombrada, crua como falava, que fui descobrir os seus poemas. A Adília Lopes morreu ontem e eu li a notícia e não queria acreditar. Tinha apenas 64 anos. Fiquei tão triste.  Chorei por ela e por mim e por todas as mortes que ficaram por chorar. 

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“Posso morrer porque amei e fui amada. Gostei de homens, de mulheres, de velhas (de velhos não), de bebés, de bichos, de plantas, de casas, de filmes, de concertos, de quadros, de teorias, de jogos, de pastéis de natas, de jesuítas, de russos, de hamburgers, de Paris e de Londres. Nunca fui a Nova York e gostava de ir, mas não me importo de morrer sem ter ido. Também nunca tive um orgasmo. Não me arrependo de nada. É claro que Nova York não se compara a um orgasmo. Um orgasmo é muito mais importante”

De Irmã Barata, Irmã Batata, de Adília Lopes

(na página 409 de Dobra, poesia reunida, 2021, Assírio & Alvim)

publicado às 11:55

Está nas listas todas de melhores do ano, da Sight & Sound a Barack Obama: All We Imagine As Light - Tudo o que Imaginamos como Luz, filme escrito e realizado pela indiana Payal Kapadia, é ao mesmo tempo lindo e triste, seja na forma como retrata a vida das mulheres, tão condicionadas pelas famílias, pela religião, pela moral, seja no modo como nos mostra aquela cidade, Mumbai, na sua enormidade e na sua pobreza. Uma cidade onde mais de 12 milhões de pessoas se movimentam (conseguem imaginar?) e onde a toda a hora se ouvem carros, buzinas, motores, mil ruídos.

Lembro-me que quando vim estudar para Lisboa, ainda nem 18 anos tinha, a cidade grande apresentava-se como um mundo de possibilidades. Aqui eu poderia ser quem eu quisesse e fazer o que me apetecesse. Andar na rua sem ter que cumprimentar todas as pessoas, sem que toda a gente me conhecesse e controlasse, era exactamente aquilo de que precisava naquele momento. A cidade cumpriu as expectativas. Não sou a maior fã de Lisboa, não consigo ver beleza em todos os seus recantos, mas sei que aquilo que sou hoje se deve em grande parte a todas as experiências que esta cidade me proporcionou. Aos cinemas. Aos teatros. Aos bares. Às ruas. Ao anonimato. Ao trabalho. Às pessoas. À diversidade. 

Para as três mulheres de All We Imagine As Light, Mumbai também representava essa liberdade. Mas as expectativas delas não se cumpriram. Vieram das suas terras para trabalhar no hospital, mas continuam ligadas a tradições, presas por preceitos antigos, dependentes das decisões de outros. A enfermeira Prabha casou com um homem que mal conhecia, escolhido pela família, que depois foi morar a Alemanha e praticamente a abandonou - e no entanto ela mantém-se fiel a este casamento infeliz. A jovem Anu, também enfermeira, apaixonou-se por um muçulmano e namora às escondidas, enquanto os pais procuram um marido para ela e lhe mandam fotografias de pretendentes. A cozinheira Parvaty, a mais velha das três, ficou viúva e agora está em risco de ser despejada porque o marido não lhe deixou os documentos que comprovariam que a casa é dela. O dia a dia delas, entre o hospital e as casas modestas, é molhado - estamos em plena época das chuvas -  e barulhento mas ao mesmo tempo solitário. A cidade acolheu-as, mas não lhes permite serem livres. Só fora dali, quando Parvaty decide voltar para a sua terra e as amigas a ajudam na mudança, é que elas se vão conseguir encontrar a si mesmas. 

All We Imagine As Light é um filme de sensibilidade e poesia, filmado sem pressas, o que deixou algumas pessoas inquietas na sala de cinema, constantemente a olharem para o telefone. Mas é tão bom quando nos deixamos levar por um filme, quando nos permitimos abrandar e esquecer o mundo lá fora. E ficar só ali, a apreciar todos os detalhes. A música. Os silêncios. Um amor a nascer. Os pequenos gestos. A amizade entre três mulheres. Os olhos delas.

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publicado às 10:48

Tenho andado a organizar álbuns de fotografias. Nos últimos dez anos desleixei-me muito, mas preciso dos meus álbuns. Organizar os álbuns ajuda-me a organizar a memória e isso ajuda-me a organizar a vida. Para outras pessoas não será tão importante. Mas para mim sim. Os álbuns e depois este meu diário em forma de blog e depois ainda a conta de instagram, faz tudo parte desta necessidade que tenho de fixar as memórias, de guardar as coisas boas (e as más, que na maior parte das vezes apenas se subentendem nas entrelinhas, mas eu sei onde estão e quais são), de encontrar (ou criar) uma narrativa. E, depois, folheamos os álbuns e descobrimo-nos felizes, mesmo em alturas em que parecia que tudo corria mal, ali estamos nós a sorrir, tantas coisas que fizemos, tantas coisas que vivemos, tantas pessoas que abraçámos. E até parece que faz tudo sentido.pais.jpg  os meus pais

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IMG_0067.JPG o Dinho e a vovó Ana

IMG_00745.JPG a avó Helena e o avô António

IMG_0061.JPGeu e a minha irmã no jardim

  IMG_0085.JPGa avó Helena, a mãe e a avó Celeste

IMG_0046.JPGeu e a minha irmã na praça

IMG_0002s.jpg a Ia

158_5827.JPG o avô Caetano

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218_1894.JPG a família a crescer

IMG_0642.JPG e a crescer

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(não garanto que esta seja a ordem cronológica das fotos, mas há de ser mais ou menos)

publicado às 16:26


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