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De uma maneira geral, nas férias a regra é não ter regras. Deixarmo-nos ir com a onda, sem horários para comer ou para dormir, a não ser aqueles que nos determinam o corpo e o bom senso. Mas uma regra fiz questão de manter nestes dias: não havia telemóveis durante as refeições nem na praia (e isto serviu também para mim) nem no quarto. Em casa, o António deixa sempre o telefone na sala à noite, mas aqui pareceu-me que eram necessárias medidas mais drásticas. Sobretudo para impedir determinadas pessoas de acordarem a horas impróprias e correrem para o telefone. Assim, antes de irem dormir, os adolescentes desligavam os telemóveis (o mais pequeno não tem telemóvel e não levou o tablet para as férias por isso não tinha nada para desligar) e entregavam-mos. De manhã, eu devolvia-lhes os telefones em troca de bons dias sorridentes. E foi a melhor decisão que tomei. Toda a gente dormiu bem e, na verdade, eles tiveram mais do que tempo para estarem agarrados aos ecrãs. De tal forma, que nunca houve discussões sobre este assunto. Só isso já é uma vitória.
Confirma-se: sou uma chata. Com muito orgulho.
O meu telemóvel é pré-histórico. Um nokia daqueles minorcas com poucas capacidades e com uma dona igualmente pouco capacitada para as tecnologias. Serve-me para fazer chamadas, mandar e receber mensagens, e pouco mais. Não há internet, nem aplicações, nem fotografias de alta definição, nem nada. Ando há que séculos para comprar um telefone novo. Este está mesmo quase a pifar. E confesso que às vezes me dava jeito ter um bocadinho mais. Ora vê lá aí o caminho. Ora vê lá aí se já chegou o mail. Ora vê lá aí a que horas é que aquilo começa. Ora vê lá aí. Mas ando há que séculos a adiar a mudança. Os amigos gozam comigo e com o meu telefone. Perguntam-me se ainda uso a máquina de escrever azert, se tenho televisão a preto e branco, se já tenho electricidade em casa. É um divertimento. (fora de brincadeiras, no outro dia uma pessoa surpreendeu-se verdadeiramente por eu ainda ter uma agenda moleskine em papel e fez-me sentir como se eu fosse uma ave rara) A verdade é que tenho algum receio de me tornar uma dessas pessoas que estão sempre a olhar para o telefone e que passam os concertos a fazer vídeos e que passam o tempo a postar fotografias daquilo que estão a fazer e que estão sempre a rebentar bolinhas e não sabem estar sem fazer nada, ler um livro no metro, sentar-se numa esplanada a ver os patos, aborrecer-se na sala de espera do hospital. A verdade é que não tenho a certeza de ter forças suficientes para não me tornar uma dessas pessoas. A verdade é que eu já passo tanto tempo em frente dos ecrãs que estes momentos em que estou longe de um computador são como um descanso forçado. A pausa necessária. Ou então a verdade é que sou mesmo avessa às novas tecnologias e até um bocadinho velha do restelo, e isso não é lá muito bom.
The times they are a changin'. E um dia destes eu vou ter que mudar com eles.
Para pensar um pouco nisto, vejam estas fotografias e ainda este vídeo.
O António está a levar muito a sério a sua primeira quaresma e decidiu que, até à Páscoa, não iria comer queijo Philadelphia. Vocês não o conhecem, mas o António é maluco por queijo Philadelphia, do normal ou com ervas aromáticas. Não comer o seu queijo é mesmo um sacrifício. Não sei se ele vai aguentar até ao fim mas mesmo que isto dure só uma semana já acho uma prova de fogo.
E tu, mãe, do que vais abdicar na quaresma?
Como eu tardava em decidir, e os dias iam passando, o António pensou um pouco e anunciou: Já sei, não podes ir para o computador à noite. Ainda tentei argumentar mas a verdade é que se é para abdicar de algo que nos parece mesmo importante (ainda que, de facto, seja algo desnecessário) o puto acertou em cheio. E como nisto da educação não adiantam muitas palavras se não se der o exemplo, basicamente, estou lixada. Ontem à noite, com os miúdos já a dormir, liguei o computador por uns minutos, comecei a ter problemas de consciência e pus-me, antes, a ver televisão.
Está visto que este mês de março vai ser muuuuuuuuito comprido.
Aqui estão sete. Sete razões para não oferecer um i-pad às crianças neste natal.
Na sequência do que já tinha falado aqui e aqui e provavelmente em mais sítios, porque este é um assunto que me é caro.
Nesta altura do ano lembro-me sempre do conselho do nosso pediatra (que eu adoro) quando falámos sobre as prendas: abra-lhe uma conta no banco e peça aos avós para depositarem lá o dinheiro que iriam gastar em presentes, para já ele só precisa de um tuperware e uma colher de pau. Isto foi dito quando o António era ainda bebé. Numa idade diferente poderíamos substituir o tuperware por algo tão simples como uma bola ou uma corda de saltar ou, como defendem alguns, um pau. As crianças ficam felizes com poucas coisas e com coisas simples. E também nos cabe a nós ensiná-los a descobrir a felicidade nessas coisas. Sobretudo nas coisas que não sejam electrónicas. É sempre melhor uma tarde passada no parque do que uma tarde no sofá. Acredito profundamente nisto.
Tenho uma função: afastá-los dos ecrãs. Da televisão, do computador, dos videojogos. E isto é o que eu faço a maior parte do tempo. Não me interpretem mal. Eu não os proíbo de ver televisão ou de jogar playstation nem quero que os meus filhos sejam info-excluídos. Lá em casa temos todos esses aparelhómetros e mais alguns. E eu sei que não os poderei afastar deles para sempre. Não sou assim tão ingénua. Apenas acho que eles não precisam do meu incentivo para ver ainda mais desenhos animados. Não precisam que eu os ensine a fazer buscas na internet. Ou que lhes ofereça a consola mais recente. Eles farão isso tudo, a seu tempo, sem a minha ajuda. Mas, pelo contrário, penso que já precisam da minha ajuda para sair de casa, para conhecer a natureza, para fazer um bolo, para descobrir como é possível fazer mil e uma coisas longe de um ecrã. Por isso essa é a minha função. Se o mundo todo e os amigos os puxam para a nintendo eu imponho regras (só se joga ao fim-de-semana), horários (ninguém joga depois do jantar), mais regras (não, não jantamos a ver televisão e não, não podem ver todos os canais nem todos os programas). Não os deixo ver novelas nem reality-shows nem filmes que não são para a sua idade, por exemplo. E obrigo-os a desligar quando acho que é demais. Proponho outras actividades. E só se estiver mesmo muito desesperada é que me ouvirão a dizer qualquer coisa como então, senta-te lá um bocadinho a ver televisão. Prefiro que desarrumem o quarto todo e façam barulho e me dêem mais trabalho. Sei que há quem me chame maluca, ditadora e atrasada, quem diga que eu devia pôr os meus filhos no computador para que eles se tornem pessoas modernas, preparadas para o futuro. Mas, pronto, eu acho que eles têm a vida inteira para estar sentados à frente de um computador mas só têm estes curtos anos para serem crianças e poderem brincar o dia inteiro. E estou mesmo convencida que, neste momento, é mais importante que eles brinquem ao faz-de-conta e com carrinhos do que passem a tarde com o super mário. E acredito mesmo que não é por não saberem o que é um power point aos sete anos que vão ser adultos menos preparados e menos tecnológicos do que os outros. Ou menos felizes. Fico à espera que alguém me prove o contrário. Até lá, eu afasto-os dos ecrãs. É a minha função. Ah, e odeio o magalhães.
Quanto mais penso nisso mais me parece absurdo essa coisa de dar computadores, magalhães ou outros, em massa às criancinhas. Que os dessem aos meninos que andam no ciclo, vá lá, ainda percebia. Agora, às crianças de seis anos? Quanto mais penso nisso mais tenho a certeza que as crianças de seis anos precisam é de ser crianças e de brincar. Precisam de explorar a natureza e o mundo. De passear e de aprender. Não havia nada mais importante para fazer? Levar as crianças a espectáculos e exposições, equipar as escolas com todo o tipo de materiais para que elas possam fazer esculturas, pinturas e outras artes. Comprar-lhes puzzles e jogos. Bolas. Livros. Instrumentos musicais (além da pandeireta e da flauta). Levá-las a concertos. Dar-lhes formação musical de jeito. Ensiná-las a fazer bolos. Levá-las a andar de comboio e de carroça. A acampar. A ver as estrelas. A ver o mar. Mostrar-lhes os nossos monumentos. Garantir que têm uma alimentação decente. Não tinham onde gastar o dinheiro? E que tal não permitir que haja miúdos que têm de estar nas aulas com luvas e cachecóis? Não os deixar aprender em barracões que no verão parecem fornos? Dar-lhes pátios grandes, com árvores, jardins, hortas, espaço para correrem e jogarem à macaca? Dar-lhes pavilhões desportivos bem equipados. Mostrar-lhes que há mais desportos além do futebol. Piscinas. Passeios a cavalo. Quanto mais penso nisso mais me convenço que a última coisa que as crianças de seis anos precisam é de passarem (ainda mais) tempo em frente a um computador. As crianças de seis anos não deviam sequer ter computador.
Mas isto sou eu, que sou retrógada e, talvez, até um pouco ignorante, que não sei nada destas novas pedagogias. Isto sou eu que cada vez mais sinto que vivo num tempo e num mundo que já não existem.