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Limpar armários. Tirar tudo, lavar, arrumar de volta. Limpar o fogão, mudar a areia do gato, esfregar nos intervalos dos azulejos, lavar as loiças da casa-de-banho, deitar lixívia na sanita, lavar o chão, sentir aquele cheirinho a flores do detergente. Trocar os lençóis das camas, limpar o pó, borrifar pronto pelos móveis, aspirar os tapetes, sacudir as almofadas. Despejar os baldes do lixo, arrumar a roupa espalhada pelos cabides, desviar o sofá, limpar atrás das cómodas, endireitar os livros nas estantes. Horas nisto, às tantas apetece-me desistir, mudo a playlist do spotify para algo mais animado a ver se custa menos. Doem-me as costas e juro que nunca mais. Mas, no fim, fica tudo um brinco. Há lá prazer maior do que este? Passeio-me pela casa como se estivesse de visita. Abro as portas dos quartos e fico a admirar a minha obra. Até parece uma casa como deve ser (a minha mãe ficaria orgulhosa, não consigo evitar este pensamento, lá se vai o feminismo pelo cano abaixo). Dura pouco a limpeza, daqui a nada chega um puto do futebol e vai tomar banho e o outro que deixa a mochila no chão, e os lanches e a vida, e logo à noite já ninguém vai saber do trabalho que tive, mas por agora deixem-me aproveitar, até me vou sentar aqui no sofá um bocadinho a descansar e a sorrir para a televisão desligada, tão limpa que quase me serve de espelho.
Se pudéssemos limpar a vida como limpamos a casa, isso é que era de valor. Nada de teias de aranha na cabeça nem lixo a atrapalhar-nos os passos.
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Este texto foi escrito com um colectivo de gente que gosta de se meter em trabalhos. Sigam as outras teias de aranha aqui: