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A Mónica Calle é uma das "minhas" artistas. Alguns dos espectáculos que mais me remexeram por dentro e tiraram o chão são dela. Algumas das conversas mais bonitas que tive com artistas foram com ela. Nem sempre adoro os seus espectáculos mas percebo sempre a sua ideia e reconheço toda a entrega que coloca no seu trabalho. E admiro a sua imensa liberdade. Cada obra é resultado de uma procura íntima e real. É, por isso, de uma integridade absoluta. Ela faz o que sente que tem de fazer, sem concessões às modas ou às receitas de bilheteira. Os espectáculos saem-lhe da pele e das entranhas. E mesmo quando falham ou mesmo quando são apenas tentativas ou mesmo quando não chegam onde ela queria que chegassem, ali está ela, expondo-se perante nós, na sua fragilidade, na sua imperfeição. Nesse aspecto, é curioso como as artes visuais acolhem muito melhor o erro do que as artes cénicas, onde se espera sempre que o trabalho apresentado esteja pronto e perfeito. A Mónica contraria isso, e não é raro vir falar com o público antes de uma apresentação para lhe explicar isso mesmo, sim, isto é um espectáculo, mas é também um processo. E estarmos ali, performers e espectadores, naquele local, faz parte do processo. Os espectáculos dela são, portanto, ao mesmo tempo, vindos de um lugar muito dela mas sempre uma procura de ligação com o outro. Ela estende-nos a mão e pede-nos: venham comigo nesta viagem. Porque o teatro, como a vida, só faz sentido assim, em comunhão, em partilha, neste dar e receber. Com amor.