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Há dez anos, desde a primeira viagem a São Miguel e a primeira vez que ouvi falar do Tremor, que andava com vontade de lá ir. Mas era sempre tudo tão complicado, os miúdos e as férias da páscoa e o dinheiro e os bilhetes e ir com quem?, nunca conseguia, ficava só a ver as fotografias no instagram e a ouvir os relatos de quem lá ia e a achar que devia ser mesmo fixe. Até este ano. No aniversário dos 50, um grupo de amigos ofereceu-me a viagem de avião. Que alegria! Começámos por ser duas e acabámos a ser seis. E foi incrível. Cinco dias inteiros de felicidade, ora com chuva ora com sol, mas quem quer saber do tempo quando se está mergulhada na água quentinha da Poça da Dona Beija e rodeada de pessoas queridas? Tirando os telefonemas e as mensagens (sem stress) para os rapazes, consegui fugir completamente da rotina, das notícias, das preocupações, e entregar-me por completo a esta experiência. Porque o Tremor é, de facto, uma experiência. É um festival com um ambiente muito cool, relaxado, com poucas pessoas, que vamos encontrando uma e outra vez ao longo da semana, casais que trazem os filhos, grupos de amigos, gente da terra, todos juntos e todos a sorrir.

Também é preciso estar atento e disponível para desfrutar completamente - dos concertos, da beleza da ilha, da comunidade. O programa é muito extenso e não conseguimos ir a tudo (até porque a idade já pesa e esta pessoa não aguenta noitadas), mas tudo o que fizemos foi bom, de uma maneira ou de outra. Destaques:

Comer: bolo lêvedo e massa sovada nos nossos pequenos-almoços com vista para a marina, os chicharros com feijão no Mané Cigano, as bifanas de atum e o bolo de ananás da Tasca, o cozido e a carne no ponto do Tony's, as bifanas do Clipper, o peixe (e, diz quem comeu, também as iscas) do Nacional, cerveja e tremoços nas escadas da igreja da Lagoinha, o queijo com pimenta da terra em todo o lado, sempre que possível.

Tremor na Estufa: concertos surpresa em formato pop-up, em lugares inesperados. Vimos os divertidos The Zenmenn no Pinhal da Paz, estivemos nas Furnas com os Why The Eye e ainda ouvimos os Comfort no Museu do Tabaco da Maia (e o museu também é bastante interessante).

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Tremor Todo-o-Terreno: pequena caminhada na Ferraria, mini-concerto do saxofonista Julius Gabriel junto ao mar e, a terminar, banho na piscina de água quente e salgada.

As salas: só conhecia o Teatro Micaelense, fiquei a conhecer o Coliseu Micaelense, o Ateneu Comercial, a Igreja do Colégio e o espaço das Portas do Mar, onde acabavam as noites (e que, por coincidência, ficava a apenas três minutos de casa, o que deu imenso jeito).

A música: a grande descoberta para mim foi Fidju Kitxora, um projecto muito incrível que junta as sonoridades de Cabo Verde e a electrónica e pôs toda a gente a dançar. Joseph Keckler, de que nunca tinha ouvido falar, foi uma óptima surpresa. O concerto de Norberto Lobo e Six Organs of Admittance foi muito, muito bom. Os 800 Gondomar, não sendo de todo o meu género musical, acabaram por ter a energia certa para aquele fim de tarde do Mercado da Ribeira Grande. 

Mais do que música: foram muito especiais os momentos musicais que envolveram as pessoas de São Miguel e onde se percebe o impacto que um evento destes, quando é bem feito, pode ter, sobretudo nos jovens. O projecto Filhos do Vento pôs um grupo de rappers locais a trabalhar com o Xullaji e só de ver a alegria deles em palco a debitar as suas rimas já valeu a pena (ficámos de olho no Maçarico). O saxofonista Guillaume Perret esteve apenas cinco dias com a Escola de Música de Rabo de Peixe e o resultado foi extraordinário (foi mesmo). E o músico Romeu Bairos, além do seu disco, Romê das Furnas, trouxe para o palco músicos das Festas do Divino Espírito Santo e ainda contou com a participação inesperada do grande Zeca Medeiros. Gritou-se 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais, e estou em crer que me caiu uma lagrimita emocionada, não sei se pela música, se pela felicidade de estar ali e pela sorte, a imensa sorte que tenho, de ter estas oportunidades e estas pessoas na minha vida.

Sim, porque nada disto seria possível nem seria assim tão bom sem a energia e a alegria e as conversas e as piadas e a presença e a amizade e os abraços de Alda, Ana, Jô, Nuno e João. A dançar na fila da frente dos concertos ou para enfrentar caminhos íngremes no meio do nevoeiro, não consigo imaginar melhores companheiros de viagem. Tremor é amor, diz o lema do festival. E eu confirmo.  

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publicado às 13:09


1 comentário

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Inês 19.04.2025

Que saudades dos Açores!

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