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16
Abr19

Vivian Maier

Descobri a Vivian Maier por acaso, como quase tudo o que nos acontece de bom. Numa noite de tédio em frente da televisão, ora vamos lá ver o que há para aqui para me entreter até me dar o sono. E havia este documentário sobre uma fotógrafa.

Vivian Maier nasceu em 1929 em Nova Iorque e cresceu para ser uma mulher solitária. Sem família, sem amores. Trabalhou brevemente numa fábrica e percebeu que não era nada disso que queria, então decidiu tornar-se ama, um trabalho que lhe permitia passar parte do dia na rua, a brincar e a passear com as crianças, e que além disso lhe dava alojamento e liberdade. Ela não precisava de mais nada. Não era propriamente a ama mais carinhosa do mundo. Falava pouco. Não contava nada da sua vida a ninguém. Em cada casa por onde passou contou um passado diferente, apresentou-se inclusivamente com nomes diferentes. No seu quarto, fechado à chave, guardava recortes de jornais e outras mil bugigangas. Descrevem-na como uma mulher "estranha", ou seja, diferente das outras. Muito alta, quase sempre de chapéu de abas na cabeça, com roupas pouco charmosas.

Vivian andava sempre com a sua Roliflex ao pescoço e fotografava de tudo um pouco. Mas imprimiu muito poucas fotografias. Fotografava obsessivamente e é óbvio que isso lhe dava prazer, mas não se interessava por ver as fotografias que tirava, muito menos por mostrá-las a outras pessoas. Quando morreu, sozinha e na pobreza, em 2009, deixou caixas cheias de milhares de negativos, rolos por revelar, provas de contacto. E só então se descobriu a maravilhosa fotógrafa que ela era. As suas fotografias, muitas a preto e branco, algumas a cores, são um documento incrível sobre a vida - em Nova Iorque, em Chicago, noutras partes do mundo - nos anos 50, 60 e 70. E o que é ainda mais fascinante é que aparentemente ela tirava aquelas fotografias instintivamente, enquanto deambulava pelas ruas, sozinha ou com crianças, sem perder muito tempo a pensar no enquadramento e na luz, muitas vezes apanhando as pessoas desprevenidas. Um momento. Um clique. E o resultado é incrível - descubram o seu trabalho no site www.vivianmaier.com que não se vão arrepender.

VM19XXW03457-07-MC.jpg

Não temos que ser todos iguais. Ainda bem que não somos todos iguais. São as pessoas que são diferentes, que pensam de maneira diferente, que não se enquadram, que, ainda que se sujeitem às regras sociais, mantêm uma cabeça livre, são essas pessoas que fazem geralmente coisas maravilhosas. Ainda que sejam pequenas. Pequenas coisas maravilhosas. Como as fotografias de Vivian Maier.

publicado às 09:31


7 comentários

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calita 16.04.2019

Gosto particularmente da forma como John Mallof descobriu os negativos dela e de como essa descoberta mudou-lhe a vida. Sabemos lá com quantas coisas incríveis nos cruzamos na vida sem fazer ideia!
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Alex 17.04.2019

eu descobri-a em 2011 e também gostei imenso http://vivianmaier.blogspot.com/
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Paranoiasnfm 17.04.2019

Também vi o documentário no final do ano passado, adorei!
Uma verdadeira artista, mas que passou sempre "despercebida".

Também escrevi sobre o documentário (clica no meu link para ires para o meu blogue). :)
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imsilva 17.04.2019

É por isto que eu gosto deste mundo dos blogs, mesmo sem nos conhecermos, conversas interessantes, e informações preciosas. Obrigada por esta sugestão, que não conhecia.
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Fatia Mor 17.04.2019

Descobri-a o ano passado, no curso de fotografia e fiquei maravilhada com a sua vida e sua postura face à fotografia. O ângulo do qual fotografava e a forma dissimulada que a máquina lhe permitia tirar as fotos, deu-lhe uma visão novel do mundo. E pensar que, se não fosse um acaso, não lhe conheceríamos o trabalho...
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Sara 17.04.2019

Parabéns pelo destaque, gostei imenso de ler e sem dúvida que vou ver esse documentário.
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Rita 17.04.2019

Vi o documentário há dois anos atrás e fiquei rendida ao trabalho dela... Espero que possamos um dia ver as fotografias dela expostas em Portugal...

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