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09
Fev24

What if?

De cada vez que vejo As Pontes de Madison County, com o Clint Eastwood e a Meryl Streep, é inevitável colocar a pergunta: o que faria eu? ficava ou partia? abria a porta do carro ou não?

Não me lembro, mas imagino que da primeira vez que o vi, numa girls night na Ericeira, quando estávamos ainda na faculdade, por entre as lágrimas que me caíam pela cara, tenha pensado que ela estava a ser burra e que devia mais era seguir o seu coração e correr atrás daquela paixão.

Entretanto, a vida dá muitas voltas, não é? Hoje, percebo perfeitamente quem não arrisca a sua vidinha - ainda que com muita rotina e com poucos arrebatamentos - por causa de uma paixão que até pode ser espectacular mas que, sobretudo, é fugaz e incerta. Não me interpretem mal. Sou toda a favor de acabarmos com relações que nos fazem mal. E de corrermos atrás dos nossos sonhos. Mas também é preciso ter consciência que, às vezes, essas coisas que acontecem e que são maravilhosas só são assim tão boas porque são finitas. É o seu super-poder. Não estou a dizer para serem infelizes e para aguentarem uma pessoa que vos trata mal, não é nada disso. Mas ficar numa relação confiável e confortável, sobretudo quando se tem filhos, pode mesmo ser, em alguns casos, a melhor opção. 

Vem esta lenga-lenga toda a propósito do filme Vidas Passadas, de Celine Song. 

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A história começa em Seul, com um rapaz e uma rapariga que são os melhores amigos. Entretanto, a família de Nora decide emigrar e eles nunca mais falam. Um dia, muito mais tarde, já jovens adultos, graças ao facebook, voltam a conversar. Muitas mensagens, muitas conversas telefónicas. Cresce neles uma enorme vontade de se encontrarem. Inevitavelmente, começam a fantasiar uma relação que não é real. E, por isso mesmo, percebem que é melhor interrompê-la. Novo salto no tempo. Anos mais tarde, Hae Sung, que nunca conseguiu ser verdadeiramente feliz porque viveu sempre preso a um sonho por concretizar, vai visitar Nora a Nova Iorque. Ela é casada, está bem, mas aceita encontrar-se com o seu antigo amigo. E aquele encontro, dois ou três dias apenas, acaba por trazer muitas inseguranças e muitas perguntas. E se se tivessem encontrado mais cedo? E se tivessem ficado juntos? E se ficarem juntos agora? Seria possível?

Existem depois outras questões - sobre emigração e sobre identidade. Sobretudo no caso de Nora, que se pergunta quanto dela é sul-coreana, quanto será já americana, e qual a importância disso. Mas no essencial este é um filme sobre o amor, sobre desejos por cumprir, sobre as relações que idealizamos e as relações que vivemos, e sobre as escolhas que fazemos, em cada momento, e que acabam por ser determinantes. E é muito bonito.

Se calhar não tem nada a ver com As Pontes de Madison County, mas na minha cabeça, ao dia de hoje, é isto que me ocorre. Porque os filmes também são as circunstâncias em que os vemos.

publicado às 14:55


1 comentário

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Maria J. Lourinho 11.02.2024

Têm tudo a ver, sendo a grande questão comum as escolhas que fazemos.

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