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O novo filme de Ken Loach, The Old Oak, fala da pobreza e da solidão. Da falta de empatia pelo outro. Da importância da comunidade. O pretexto é a chegada de um grupo de refugiados sírios a uma pequena localidade no norte de Inglaterra. A população, muito pobre também, reage mal ao facto de aos estrangeiros lhes serem oferecidas casas e outros apoios. Cria-se um ressentimento que logo se transforma em ódio xenófobo. É ali, numa antiga vila mineira do Reino Unido, podia ser algures no Alentejo. Os outros, que se vestem de maneira diferente, que falam uma língua que não entendemos, que cozinham comidas com cheiros estranhos, são vistos como uma ameaça, mesmo que não haja uma razão objectiva para tal. The Old Oak está longe de ser tão pungente quanto Eu, Daniel Blake (2016) e nem sequer é um dos melhores filmes de Loach. E tem uma mensagem de esperança, que não deixa de parecer um pouco fora do tempo, tendo em conta o estado actual do mundo. Mas é preciso ter um coração de pedra para não se ficar um bocadinho comovido.
Sobre a questão dos migrantes na Europa, vi, no Leffest, um outro filme que me deixou meio abananada: Io Capitano, de Matteo Garrone. Esta é a história de Seydou, um rapaz de 15 anos, do Senegal, que quer ser rapper e sonha com uma vida melhor na Europa. Mas, para isso, tem de sobreviver à terrível viagem, a pé sob o sol do deserto ou num barco sobrelotado perdido no Mediterrâneo, enganado e mal tratado pelas redes de tráfico humano, roubado e explorado. O filme é de uma enorme violência. Fechei os olhos algumas vezes, para não ver.
Não tem de ser sempre assim, claro, os filmes podem ser experiências muito diferentes e ainda bem. Mas há filmes que conseguem pôr-nos a olhar para o mundo e a pensar. E isso é tão necessário. É que, na vida, não adianta fechar os olhos e desejar que o filme acabe depressa.